segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Inércia e Euforia

O vazio no peito escorregadio
por lágrimas que caem ácidas, neste frio
de olhos que analisam com certo flerte
a realidade, sórdida e inerte.

O vazio, insone e angustiante
de não sentir nem mesmo tristeza, instigante,
e muito menos euforia, nesta condição.
Rasga, assim como a realidade, sem emoção.

O vazio, a respiração nunca ofegante,
a respiração monótona e entediante.
As linhas de um caderno, todas iguais, 
retas, paralelas, assim como a realidade... Desleais.

O vazio, envolto em máscaras sorridentes,
sorri, e gargalha... Gargalhadas estridentes
que doem e cortam meus ouvidos moucos,
e machucam e ferem somente a loucos.

O vazio que a chuva me lembra constantemente.
O vácuo que preenche minha mente...
É aquela ausência de algo que não sei, 
é a presença insuficiente a que me dei.

O vazio que ocupa o lugar de meus sentimentos,
que os troca, os engana, cega e me traz tormentos.
É a precariedade de minh'alma pura neste recinto,
contenho-me toda, mas não minto.

O vazio, preto e branco que me atinge
é unânime em meu corpo que não finge
contentamento, outrora admirada,
agora apenas excêntrica, insensata.

O vazio, isento de pesquisas e estudo,
logo a mim aflige! - este ser mudo - 
cansado de tanto se cansar
e nada conseguir, só sonhar.

O vazio, inerente e inconsciente
que me completa, paciente
e traz-me ânsias de não tê-las mais,
e deveras tornar meus olhos, irreais.

O vazio, paraíso dos que são felizes
com pouco e inferno pros infelizes
pelo mundo, e nesta mistura... Que sou eu?
Eternamente descontente... Reles plebeu.

O vazio, que me toma a mão direita com tal força
e me faz escrever até que a própria força
me cale, me desfigurando, privando do que mais amo:
as palavras - as que me socorrem quando por ajuda clamo!

O vazio, espaço ilustre da imaginação,
campo magnético para a ilusão,
confunde-me por inteira neste sufoco
que me intriga o corpo pálido e oco.

Thais Barbiere
29.01.2008

Poema de apenas uma face

Um anjo torto me achou.
Ele me olhou e falou,
num sussurro alto,
num berro e num salto:
'Vai, Thais! Ser gauche na vida!'
E eu, como despedida, 
virei as costas e bufei:
- Não fales o que já sei!
Senhor anjo, me explique
agora, com carinho, e recite
outras palavras menos dolorosas
que aquelas, por demais rancorosas.
Mereço por quê?
Não cumpri meu dever?
Diga-me, já nasci para ser
com um destino sem poder?
Quieta, calada, mau-humorada,
ranzinza, solitária, e desesperada.
Largue de meus pés!
Queres que eu seja quem tu és?!
Anjo sem escrúpulos, ó anjo torto!
Mude minha sorte de reles morto...!

Thais Barbiere
16.06.2006 (01:08)

domingo, 3 de novembro de 2013

Sonho de Liberdade

Que fazer quando o corpo simplesmente não obedece às ordens estabelecidas pela razão, inebriando-se pelas ideias do coração? Que atitude tomar, se os braços tornam-se imóveis perante o outro, disputando na psiquê o que realmente deseja, o insensato?

Encontro-me em perdição. Sem saber qual rumo tomar, de que palavras e de que gestos devo me utilizar. Vestir-me de outros trajes não irá ser sincero, no entanto não posso ignorar a existência do fator que tanto me atordoa.

Quanto mais penso, mais perco-me em meus pensamentos. É difícil compreendê-los. Nem mesmo eu consigo, com êxito, tal façanha. Sinto como se eu estivesse prestes a despencar num precipício, equilibrando-me numa frágil corda, que está para arrebentar a qualquer momento e só tenho duas saídas: Buscar uma força sobrenatural e erguer-me rapidamente, antes da queda... Ou permitir-me cair, jogando-me no vazio eterno. O pior é que não sei qual delas 'escolher'.

Enquanto eu poderia ir de encontro à alguma felicidade, cultivando mudanças, evoluindo, olhando para todos os lados... Cismo em olhar pra trás, observar o passado e viver dele, causando dores não somente em mim. Cismo em outrora, cismo na época dourada. Porém até mesmo nela havia sofrimento, por mais que ela possa parecer, agora, tão colorida e vivaz. Havia um pouco de cinza nela também. E hoje posso observar que o presente é tão negro e sem cores, pois o colorido morreu junto à aquarela vazia sob a mesa.

Porque não deixá-la ir embora? Cismo em nutrir expectativas de alguma mudança totalmente irracional e ilusória... Mudanças nem mesmo cogitadas. Cismo em viver ilusões insensatas. Em viver sonhando. Será que um dia conseguirei acordar? Será que tirarei o véu que tapa meus olhos? E me faz ter os pés e todo o corpo nas nuvens...?

Thais Barbiere
02-02-2008

domingo, 27 de outubro de 2013

So This Is Goodbye



Cantor: William Fitzsimmons

Within half an hour you 
will be gone and I won't see you anymore 
You left my love on the line 
And said that you were leaving 
And you won't come home again
And you won't come home again

And I'll miss you like you're dead 
But I never got to grieve you 
Cause I saw you 
In the arms of someone else

So your phantom follows me 
Like a child would his mother 
Or a lover who never said goodbye 
It's only saying goodbye

And I cry myself to sleep 
And you thought I was happy 
I was lonely 
Had nowhere to go

And I heard that you moved on 
Found a brand new family 
And changed your married name 
And everything has changed

And I'll miss you like you're dead 
And find a way to grieve you 
Cause I need to 
Try and start again

And your ghost will have to leave
Like a child would his mother
Or a lover
Who has to say goodbye
So this is goodbye
So this is goodbye
So this is goodbye
Goodbye 
So this is goodbye
So this is goodbye
So this is goodbye
So this is good... bye.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Morfina



Uma dor forte no peito.
Fazia tempo que eu não sentia algo do tipo.

É uma dor como se meu coração estivesse sendo amassado, 
fortemente, por um punho fechado
com extrema força e tamanho ardor.
É como se o sangue de meu coração escorresse por entre os dedos violentos.
É como se houvesse um buraco no meu peito. Oh Deus, ai de mim!
E a respiração está fraca, como se meus pulmões não conseguissem trabalhar,
e estivessem tentando ao máximo me prover um tantinho de fôlego.
Incessantemente.

A dor forte logo vai se transformando em algo comum.
Em uma dor que há muito tempo eu já conheço.
Dor contínua. Dor taciturna. Dor amiga.
Sinto o ar rarefeito e um pouco gélido.
O vento agride minha pele pálida, e meus cabelos loiros acinzentados voam,
como que procurassem o seu verdadeiro recanto.

Sinto dúvidas se um dia algo irá se resolver...
A dúvida corrói mais do que o problema em si.
Sinto que não há mais nada a ser feito, já fui derrotada nesta luta 
que perdura desde meus 13 anos...
Sinto que perdi, embora eu faria todo o possível (e o impossível) para corrigir.
Bastaria uma palavra: Sim.
E eu seria capaz de abandonar tudo. 
(Sinto-me tão inocentemente frágil nesse momento)

Quero Morfina.
Ou qualquer outra droga capaz de curar essa dor,
essa falta de ar e esses olhos lacrimejantes.
Quero Morfina, pois é a única coisa que pode impedir tão severo sofrimento,
dor tão crônica,
espasmos tão loucos.
Quero a Morfina... Para me proporcionar momentos de torpe. 
Uma anestesia geral.
Deus, se tu existes...
Permita-me não mais sentir: Quero viver dormente.

Th. Barbiere
25-09-2013

sábado, 31 de agosto de 2013

Obsessão

Meu coração está partido,
De dor, de sofrimento e solidão.
Está doendo, está ferido,
Por não ter você, minha paixão.
É duro suportar,
Está horrível dor.
Amar, só por amar,
Sem ter o seu amor.
É ser infeliz.
Serei feliz então.
Quando eu conquistar seu coração.
Você é quem sempre eu quis
Este amor já é obsessão
Nem que seja em outra encarnação.
 Elcio José de Moraes

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Yellin' Fighter

Oh I wonder if this war will never end.
My arms are tired and my soul is haunted.
Sorrow fulfills my hollow eyes,
Why, oh Lord, why can't I die?

There is always a new battle,
For the green fields we must fight!
To save the maiden inside the dungeon.
There is always a new battle for my heart.

Soldier with an insecure heart,
Fighter with so trumbling hands.
Priest with no true faith,
Thief with no will to steal.

I've got no reasons to keep with life,
As long as my heart is not alive.
I lost my faith in mankind,
When love's such a cruel assassin.

Lord, oh Lord... Please leave me to die.
In battle I shall end my life.
There is no justice in my existence.
Sword, take my blood.

Thais B. (18/06/2013)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Ó Tristeza

" (...) Entorpeceu-me o olhar; meu pulso fraquejava;
Não doía a dor, nem o prazer tinha inda flores:
Por que não vos fundistes, a deixar-me o espírito
Deserto do que quer que fosse - exceto o nada?"

John Keats

domingo, 11 de agosto de 2013

A arte do meu Desassossego

O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. (...) Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias.” Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego
“Há qualquer coisa de longínquo em mim neste momento. Estou de fato à varanda da vida, mas não é bem desta vida. (...) Sou todo eu uma vaga saudade, nem do passado, nem do futuro: sou uma saudade do presente, anônima, prolixa e incompreendida.” Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego.

Eis que ergue-se o muro de minhas lamentações! Adoraria poder fugir desta existência.
Fugir pra longe, tão longe. Longe muito além do que pudesse ser visto.
Fugir pra outra realidade, fugir para outra vida.
Fugir de mim mesma e de meus sentimentos.

Não acho que fugir faz parte de minha força,

porém considero positiva a ideia incessante de férias de mim mesma.
A ideia de poder descansar de meus pensamentos,
aquietar minhas dores e meus sorrisos pesarosos.

A ideia de, finalmente, correr livremente num campo verdejante,

sem me preocupar com nada, senão com o próprio nada.
Observar o Sol e a chuva, com a mesma parcialidade,
e alegremente, louvar essas belíssimas férias do dia-a-dia.

Não penso em hotéis luxuosos, tampouco perder-me em vaidades,

penso em isolar-me de quaisquer sentimentos,
bons ou ruins,
e vivenciar dias de inércia absoluta.

Encostar numa árvore e encontrar a paz,

enquanto leio livros e mais livros, e embebedo-me de palavras.
E alimento-me da vida contida,
como um filho se alimenta do leite materno.

E meus olhos calmos porém profundos,

benevolentes porém severos,
presenciarem cenas outras senão as diárias,
e cobiçar novamente os ruídos de minha mente perturbada.

Apaziguar-me comigo mesma, num abraço em meus braços,

e dar-me o ósculo que me recusam.
Deitar em meu leito frio e solitário, reparando que junto dele, os poetas dormem:
O Dante, Lord Byron, Fernando Pessoa e Álvares de Azevedo.

Meus doces amigos, no leito de minha morte diária,

com suas palavras repletas de desassossego e constante inconstância,
acalmam-me os desânimos,
e me trazem de volta a esta longa e complexa caminhada sem fim.

Thais, the Wanderer

11-08-2013

domingo, 4 de agosto de 2013

Definitely quitting

Quittin' you - The Band Perry

I don't know what I was thinking
You were no good but you could do some fancy talking
I know your tricks and delight for a Gumball Machine
You can keep your quarter man 'cause you won't get nothing sweet out of me

I'm quitting, quitting, quitting, I'm quitting you
Like a girl wants her chocolate, yeah, I know that I'll miss you
But I'm quitting, quitting, quitting, I'm not kidding I'm kicking you,
Cause you're my bad habit and I'm quitting you

What don't know what the heck you're thinking
It's gonna, gonna take a better man, I bet, to win my hand,
I'm not gonna play your game, I don't like the high stakes,
I'd rather sit alone at home than one more round of old maid

I'm quitting, quitting, quitting, I'm quitting you
Like a gambler leaving Vegas, boy, you know that I'll miss you
But I'm quitting, quitting, quitting, I'm not kidding I'm kicking you,
Cause you're my bad habit and I'm quitting

Cold turkey, giving you the cold shoulder,
Off, like a band-aid, one quick sting, then it's over

I'm quitting, quitting, quitting, I'm not kidding I'm kicking you,
Cause you're my bad habit and good ... have it,
You're my bad habit and I'm quitting you.

Para quê?

Para quê se apegar a cousas?
Para quê se apegar se tudo que é vivo se finda?
Se o amor que nasce, também haverá de morrer...
Se a amizade que floresce, também desfalece...
Se da união, brotam caminhos diferentes?

Se da flor, vem a praga...
Se da carne, vem o verme...
E da luz, a escuridão?

Th.
04/08/2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Conto de uma noite de inverno

Noite fria. Nuvens brancas cobrem o céu estrelado.
Permaneço imóvel na janela de madeira, enquanto observo demoradamente a rua.
Pedestres, poucos e rarefeitos, andam de modo ligeiro no meio do breu.
A Lua alta e pálida me mantém acordada, não consigo dormir nem por decreto.
Mantenho-me em pé, mesmo que cansada... E observo a rua e seus transeuntes.
Uma senhorinha, bem idosa, anda como que flertasse com o chão.
Ela sorri, e bem devagarzinho, atravessa a rua extensa.
As lojas, todas fechadas, e no alto do meu terceiro andar, eu fico a olhar.
A sacada onde estou não é grandiosa, nem confortável
mas me sinto agradável aqui. Mais do que estaria na cama, estranhamente.
Perco-me em minhas divagações e quando olho pra rua,
há um rapaz no outro fitando-me.
Nunca o havia visto antes, na vida.
Uma de suas pernas está dobrada, encostada na parede esburacada.
Seus vestes são aparentemente novos, e ele está bem vestido.
Observo que usa um conjunto social preto, e a camisa de dentro é roxa.
Não sei o porquê de observar seus detalhes com tanto afinco,
mas o olhar dele me enfeitiça.
De um modo que contamina todo o meu ser.
Cheguei a arrepiar-me agora. Mas não consigo sair para buscar um casaco.
Quase sinto-me amedrontada, diante deste olhar incessante.
Ele fuma, calmamente, algo que parece um cigarro.
E de repente, pisca-me um olho e desaparece em meio às sombras.

Fecho a janela rapidamente e tranco-a, como num ímpeto desesperado.
Vejo-me no espelho e pareço mais pálido do que realmente sou.
Não vejo beleza em meus cabelos loiro-escuros, ondulados desgrenhados.
Nem em meus olhos marrons-terra.
Nem mesmo em meu colo branco e nu.
Visto um pijama rubro, e mais nada.
Decido deitar-me e tentar esquecer.
Afinal pode ter sido apenas um sonho.

Bom dia, Outono de minh'alma!
Quem disse que estou assim alegre ao acordar?
Talvez um banho deixe-me mais disposta, já que ânimo me falta.
Visto-me, como que roboticamente, e logo após faço um café.
Minha religião é o café de todo dia.
Louvo o café como quem louva a Deus.
Em minha caneca de sempre, adoço-o bem, e abraço as gotinhas insípidas
com meus beijos avermelhados.

Mais um dia entediante de trabalho.
Procuro distrair-me lendo a parte econômica do jornal, mas nem isso.
A sessão de cultura não me tem alegrado.
Acho que envelheci, mesmo aos 30 anos.
Minha idade mental é muito além dos 30. Eu diria, talvez, 70.
Existem muitos idosos de 70 anos que são mais animados do que eu.
Acho melhor não comparar.
O dia foi realmente chato e o tédio me consome até agora.
Ir pra casa é a parte mais animadora, já que poderei inebriar-me de vinho
e ir à saudosa janela.

Banho-me e canto uma canção portuguesa. Fado, isso mesmo.
Adoro as letras tão bem empregadas e entristecidas.
Sinto-me tão próxima da Florbela Espanca, que poderia abraçá-la agora.
Portuguesinha linda, amiga de minhas noites solitárias.
Seu livro está do lado de minha cama. Pra que chore junto comigo.
E as lágrimas caem junto das gotas de água limpa que me banha.
Os cabelos encharcados, meus olhos borrados de lápis preto.
Apenas visto-me com uma blusinha de alça fina, e um short.
Ambos negros, como minha alma.
Penteio levemente os cabelos, controlando minha ânsia irada
de rasgar tudo o que há pela frente.
Penteio e logo acabo. Olho-me no espelho:
Mesma coisa de sempre.
O espelho não engana, nem meus olhos.
A janela está fechada.
Coloco um pouco de força no lado esquerda e abro a janela.
Ela está um pouco emperrada e empoeirada.
Hei de avisar Senhora Dália para limpá-la e ajeitá-la como deveria.
Frustrada, olho para a rua.
Vejo o belo rapaz perdido em seus pensamentos...
Nesse momento, observo que ele existe.
Não foi um sonho!
Ele existe, e ele está perdido em seus pensamentos. Há algo melhor que isso?
Fito-o de modo engessado,
aguardando calorosamente que seu olhar encontre o meu.
Permaneço imóvel por alguns minutos, extremamente calma.
Até que ele olha para frente e repara em meu olhar,
em minha presença,
e sorri.
Sorrio de volta,
e nesse momento, sei que estou mais vermelha do que o tomate da feira ao lado.
Observo-o e ele me observa.
Ficamos por alguns momentos nesse sentimento de cumplicidade,
até que ele foi embora e largou-me um beijo no ar.

Outro dia, e parece que consegui dormir melhor.
Não sei por que, mas o sono encontrou-me essa noite.
Nos braços de Morpheus, permaneci por algumas horas.
Sinto-me menos cansada agora.
Devo trabalhar com afinco, hoje é sexta-feira.
E nada haverá de tirar o prazer de poder dormir durante muitas horas a fio.

Volto para casa e começo meu ritual diário.
Logo após, sinto fome.
Preparo algo para comer, em total desapego.
Como apenas para matar a fome que me mata.
Não sinto muita vontade para cozinhar apenas para mim mesma,
embora conheça várias receitas saborosíssimas!
Vou à janela, e a abro com mais facilidade que ontem.
Dália consertou.
Volto-me para frente, e ele não está ali.
Oh, que haverá de ter acontecido?

Não dormi essa noite. Chorei mais do que de costume.
Embebedei-me de vinho seco e agora sinto-me ressecada por dentro,
bebo litros de água e nada resolve.
A dor de cabeça parece irá me matar, a qualquer momento.
Já vomitei meu corpo inteiro para fora.
Minha alma deve ter ido junto para o ralo.

Dormi algumas horinhas. Finalmente sinto-me um pouco melhor.
A ânsia de vômito diminuiu e a dor também.
Meu quarto está completamente escuro, pois
eu não aguentava olhar para nem mesmo um facho de luz.
O silêncio me acalmava, mas os filhos da vizinha decidiram gritar
e chorar.
E eu chorava junto, mas de dor.
Agora a dor física diminuiu, mas o coração ainda dói.
Abro a janela novamente e nada aparece.
Só breu e lojas fechadas.
Não haverei de me embebedar hoje. Não posso.
Porém não consigo ficar em mim mesma.
Não posso tirar férias de mim? Somente por alguns dias... Eu prometo.

É domingo. E hoje visito meus pais no bairro mais próximo.
Desço as escadas e pego o ônibus.
Em 40 minutos eu chego e toco a campainha.
Abraço-os fortemente e almoço comidinha da mamãe.
Senti a falta de seu abraço materno,
que me protegia de tudo e de todos. Do mundo.
Papai conversou comigo e me deu alguns recados.
Familiares têm me procurado, mas eu só procuro meus pais.
Falsidade tem limites, e eu tenho os meus limites também.
Paciência já é curta, prefiro então não encurtá-la com tolices.
Passo o dia com meus queridos e ao cair o dia, vou-me para casa.

Desci do ônibus mas preciso caminhar um tanto até meu apartamento.
É um caminho um pouco escuro e procuro andar rapidamente.
O perigo nos espreita.
Olho para os lados, e ando ligeiramente, mas
vejo um homem atrás de mim.
Ele anda rápido e logo consegue me alcançar.
Desespero-me mas procuro não demonstrar, pois seria pior.
Ele me pega pelo braço e coloca um punhal em meu pescoço.
Senti a lâmina gélida.
Meus olhos ardiam de um misto de pavor e ódio.
Eu não sabia bem o que fazer,
nem dinheiro ali eu tinha. Apenas algumas notas.
Ele achou pouco e disse que iria me matar.
Ora, morta já estou. Que diferença haverá de fazer?
Ameaçou tirar minha vida, tão próximo de minha casa.
Em segundos, ouvi o som da lâmina cair no chão, e
ainda com os olhos fechados, ouvi um grito sufocado pelas mãos.
Decidi abrir os olhos:
O homem maldito estava caído no chão.
Do lado, o herói sumido.
Abraçou-me e perguntou se estava bem.
Não consegui esboçar nenhuma reação, e
nem balbuciar uma singular palavra.
Ele sorriu e puxou-me, carinhosamente, pelos braços.
Levou-me até em frente a meu apartamento,
quando ali chegamos eu segurei sua mão
e puxei-o, para subir comigo.
Ele aceitou, como num ímpeto.
Nada havíamos falado até então.

Abri a porta, entramos, acendi a luz.
Olhei seu rosto com a claridade. Foi tão diferente!
Ele estava coberto de sangue, oh meu deus!
Ofereci-o a tomar um banho e ele aceitou.
Demorou uns 5 minutos e enquanto isso, eu lavava sua camisa
empesteada do líquido rubro.
Ele ficou apenas de calça e não parecia se incomodar, mas eu sim.
Estava completamente encabulada.
Ele explicou-me que era policial. Acalmei-me diante do fato
que ele havia matado o sujeito.
Foi legítima defesa, ele disse.
Menos mal.
Se apresentou. Disse-me seu nome e eu disse o meu,
ainda envergonhada.
Estávamos sentados na minha cama,
o apartamento é realmente ínfimo.
Meu belo príncipe disse que estes arredores faziam parte de sua rota
e que nos dias anteriores, ele precisou se afastar:
Sua mãe havia falecido. Quanta tristeza!
Doeu-me o coração de ouvir tais palavras.
Abracei-o sem nem mesmo pedir.
Senti gotas escorrerem pelos meus ombros.
O abraço durou um século, e eu amei cada segundo.
Beijou-me, finalmente. Como veneno que mata e salva.
Seus lábios pareciam uma droga - Altamente viciante.
Inebriei-me de cada segundo de sua presença.
A luz batia e a palidez conjunta parecia magnificente.
Ele despertou em mim o que ninguém havia feito,
nunca em meus 30 anos.
Demorei-me em cada canto de seu corpo,
como que cultuasse a um deus.
Suas mãos grandes e seus braços fortes me faziam sentir completa.
A solidão haveria de permanecer agora somente nos livros da cabeceira.
E o quarto pareceu enorme para nossos corpos entrelaçados.
E pequeno para nosso amor.
Ali, eu amei. E fui amada.

Th. Barbiere
27/06/2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Melagcholía



Melancolia não é um estado de graça. Nem tristeza digo o ser.
Melancolia é um sentimento forte que resiste às distrações. 
Falo com toda a experiência que me foi oferecida.
É uma falta de entusiasmo com relação a vida, para com todos.
É uma falta de predisposição para quaisquer atividades que envolvam existir.
Melancolia vai além de um simples período. Ou certos momentos específicos.
A Melancolia, tendo uma vez te escolhido, te acompanhará para todo o sempre.
Ela se assemelha ao luto, mas sem necessariamente uma perda.
É um luto interior. Mais do que um luto narcisista.

O melancólico se observa como inútil - Como todos somos, na realidade.
O melancólico não é capaz de amar. Não mais.
Provavelmente já amou alguma vez na sua insignificante vida.
E nessa única vez que seja, ele morreu. Morreu dentro de si.
O melancólico tarda a sentir prazer. O mundo parece tão desinteressante.
Nada o chama atenção ou o excita. 
Raramente consegue sentir dor ou medo. Ele é inerte, definitivamente.
Em sua languidez, sofre dia após dia. 
Com uma vida que não sente. Não sente nada.

Tudo isto eu explico ao mesmo tempo que observo.
A Melancolia é uma amiga doce, porém perigosa.
Ela me permitiu escrever sobre a mesma, ainda que rapidamente.
Somos amigas de longa data, devo dizer.
Expeliu-me palavras milimetricamente cuidadas,
como numa engenharia perversa.
E no vão de seus andares, consegui descrever seus jeitos,
seu modo de agir. E como abraça os coitados inférteis.
Aqueles, que assim como eu, se sentiram impressionados
e desafiados, diante de tamanha magnitude.
A magnificência do Spleen.

Th. Barbiere
24-06-2013 22:11

sábado, 27 de abril de 2013

À luz da Taberna - Parte 3: Eric

Rio da tragédia que me cerca. Rio da guerra. Rio do caos. Rio da mesma forma que bebo: Em demasia. Prefiro rir adoidadamente do que deixar-me levar pelas lágrimas desoladoras.... E vergonhosas.
A derrota nunca conheci. Sempre dei um fim à quem me ousou cruzar o caminho... Ou simplesmente levantar a voz em minha fronte. Sempre segui o caminho da objetividade e hei de seguí-lo até o fim. Desembainhar a espada é um momento de prazer extremo para minha mente. O som da lâmina cortando o corpo de outrem é alucinante - A lâmina gélida fatiando a carne quente e macia... O sangue jorrando com intensa vividez. Que momento inebriante!
Minha belíssima espada procura por vítimas, ou melhor, inimigos. Em cada simplório lugar que passo, ela analisa calmamente e me fornece detalhados relatórios. Nela eu sempre hei de confiar. Nela e em minha força. São as duas cousas que não quero que me faltem jamais. Nem sequer me imagino sem elas. Por isso digo que não desejo envelhecer em demasia. Procuro sempre manter-me ativo, em constantes batalhas, pois assim permanecerei tendo oportunidades de morrer de modo decente.
A honra que me acompanha, há de me acompanhar até o fim. Não posso nem quero morrer sem uma causa. A vida é algo entediante por demais... O único jeito que me permite aturar este mundo é correndo atrás de batalhas. Cortar algumas cabeças, enquanto permaneço imóvel e calmo. Sem essa opção, haveria apenas de me embebedar acerca de moçoilas despreparadas e fúteis. 
Não amo. Amor é tolice, caros amigos! O guerreiro que vos escreve perdeu toda a família nas guerras: E agora esse sentimento não mais me pertence. Meu pai, cavaleiro honrado, morreu com 10 fechas sob seu corpo. Somente aquietou-se após a nona... Matava infelizes mesmo com o sangue jorrando de seus flancos. Minha mãe, pobre e bela camponesa, morreu com uma espada apertada em seu tronco. O covarde que a feriu fatalmente foi torturado pelas minhas mãos impiedosas, anos depois. Eu tinha também um pequeno irmão, de 7 anos, que teve o mesmo destino triste que o de nossos pais... E eu - que ali não estava - fui morto do modo mais cruel que qualquer homem pode morrer: Pelo coração.
Pensando que me vejo hoje atordoado pelas lembranças dolorosas do passado... Lembranças que me tiram o fôlego e me comovem de ódio esplendoroso. Hoje não tenho mais coração - Eu o perdi quando pequeno, junto com as flechas e espadas que mataram minha honrada família. Eu, uma criança de 10 anos, tinha ido catar flores pra minha mãe, no jardim belo do alto da serra. Vermelhas, como seus lábios; azuis, como seus olhos; e amarelas como seus cabelos dourados. Ao voltar, me deparei com os corpos imóveis e gélidos de meus queridos. Enterrei-os e sob eles, coloquei as flores - Vermelhas, azuis e amarelas.
Depois de tal dia, transformei-me numa máquina de luta e impiedade. Vingança virou a água que me mantinha vivo.... Pois sanidade eu não possuía mais. Cresci, sozinho, cuidando da casa que me restou, e vivendo entre florestas e animais selvagens. Lobos viraram meus melhores amigos. Após me tornar o melhor guerreiro que aquela terra haveria de ter, matei-os todos. Todos os causadores de sofrimento da minha vila. Cada um deles morreu pelas minhas mãos. Digo aqui: Com tal barbaridade que jamais nenhum homem houve de conhecer. A dor da minha perda fazia meus olhos arderem de ódio flamejante... E me dava força pra continuar mesmo com flechas e cortes profundos. Demorei meses para me recuperar totalmente de tantos machucados físicos. Mas a ferida feita aos meus 10 anos jamais cicatrizou.
Tornei-me mercenário. Vivi de mortes. Vivo delas até hoje, que estou a beira dos 40 anos. Nenhum homem conseguiu me vencer, nem mesmo me fazer cair ao chão. Venço-os sem nem precisar pensar. Meus golpes são automáticos, meu corpo já conhece cada possibilidade de ataque e defesa. Esses coitados não conseguem encostar em um dedo de minha mão, quanto mais me ferir mortalmente. Não tenho pena nem arrependimento. Esta é a vida que me foi dada pelos Deuses. Jamais ousei me casar pois prefiro me utilizar de várias cortesãs, sempre que eu quiser. A vida, para mim, desse jeito, foi mais aturável... E não precisei me afeiçoar a ninguém. Nunca mais. E os Deuses me permitiram tal vida até então. 
Nenhum homem jamais me venceu, mas hoje fui vencido pela doença. Meu corpo dói e minha cabeça lateja. Suspeito que essa bebida seja a última que irei beber nesta vida. Estou tossindo muito e sai um pouco de sangue. Fingirei que nada acontece e chamarei Ula. Hei de me embebedar de seus lábios até que o luar se apague para mim. Para sempre.
Th. B.27-04-2013 - 16hs

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Fica comigo esta noite

Num fascínio de grandiosíssimo ardor
Deleito-me da tua companhia temporária.
Mesmo que dure apenas alguns instantes,
Fica comigo esta noite.

A aurora há de embelezar o dia,
Assim como teus olhos embelezarão minha vista.
Mesmo que tudo isso dure pouco,
Fica comigo esta noite.

Teu corpo caloroso enroscado no meu,
Teus beijos selvagens e incessantes
Mesmo que virem apenas lembranças,
Fica comigo esta noite.

Num ímpeto tresloucado de fugir da realidade,
Desejo ainda mais esta paixão cigana.
Mesmo que não corresponda aos teus sonhos,
Fica comigo esta noite.

Cuido de realizar tuas tentações
Hedonista que sou, serão bem vindas.
E neste mundo de prazeres etéreos,
Fica comigo.

Th.B. - 19:53 - 17/04/2013

terça-feira, 9 de abril de 2013

À luz da Taberna - Parte 2: Oliver

Cá estou nesta espelunca úmida e mal-cheirosa. A solidão leva um homem a cometer atitudes... digamos estúpidas. Neste atual momento, me arrependo pela irresponsabilidade de necessitar de um contato físico, por mais ignóbil que seja... E também por aceitar tal desejo, mesmo sabendo que não me acrescenta em coisa alguma.

Bebo porque preciso distrair minha mente louca e paranóica: Do cálice da vida, procuro embebedar-me sem muito pensar. Muitas vezes, pensar é pesar e adoecer-se durante minutos. Sentado numa cadeira de madeira dura e sem conforto, praticamente lar de cupins, permaneço neste lugar fétido: alimentando minhas vaidades e rindo do cotidiano ridículo que me cerca. Rio como um doido... Ou nefasto. Rio de uma risada timidamente irônica, porém verdadeira. Insana até a última gota do álcool que me inebria.

E a taberneira maldita, onde está?
- Filha de Baco, rainha da obscuridade, escrava da podridão... Venha até mim! Traga-me mais gotas de felicidade temporária, ó criatura miserável!

Um ébrio entornou-me vinho. Maldito seja o ar que ele respira! Rogo pragas contra aquele infeliz que rasteja por entre as mesas amadeiradas. Meu ímpeto é envenená-lo com cicuta, para que nunca mais entorne vinho em senhores de porte. Maldito! Que morra!
Olho para os lados e vejo mancebos risonhos, no auge de seu torpor. Mulheres com peles macias os rodeiam, mostrando seus dotes impetuosos. Suas maçãs do rosto estão levemente rosadas, provavelmente pelo ardor do vinho. Elas pairam - como aves que planam no céu azulado da bela primavera - agradabilíssimas aos meus olhos,recheadas de promiscuidade em seus atos. São mulheres doces, porém exageradamente astutas (Não que haja problema algum em tal comportamento...!).

De todas as meretrizes sagazes, compadeço-me de Sofia. Não há como compará-la a qualquer outra vívida cousa. Sua beleza não é sobrenatural, mas seus olhos... Seus olhos escondem o mundo. Sofia possui madeixas alouradas e seus olhos são cor-de-anil. Corpulenta e saudável, esta mocinha quase não se dá ao pecado do álcool. Admite, porém, que lhe agrada, sem nunca o cultivar, por seja lá qual motivo (eu nunca presto atenção em meio aos beijos, e seu corpo nu em minha fronte).

Infeliz é quem o escreve, pois Sofia não abandona a vida imprópria que toma. Já tentei persuadí-la, mas a tola diz que não saberia viver d'outra forma. Vosso escrivão cansou-se de tais ladainhas fúteis e desistiu de tê-la para si - agora haverá apenas de usá-la, como ela bem quer.

Sei que a verdade soa como um corte de uma lâmina afiada, mas é melhor senti-la de uma vez, do que permanecer na escuridão incauta e brutal. É melhor viver de silêncio do que de uma barulhenta exasperação. Perdoe-me, saudoso leitor, mas esta é a verdade que me vem à mente, e preciso alertá-lo, já que aprendi na dor.

A dor muito ensina, sabes? A dor nos é uma belíssima e culta professora na grandiosa aula da vida. Cultivo esta amizade como quem defende a prole, pois enxergo na dor um quê de libertação, inerente à qualquer pedido de salvação. Faço-me réu, não vítima, dos prazeres da vida. Mesmo que contenham pecados capitais - não me importo com outra vida, além desta.

Haverá de ser tão suja e entediante quanto.

Th. B.
09-04-2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Why don't you kill me?


You make me feel pain and pleasure,
You forced me more than never
That's really too strange to measure,
so I'd prefer not to have you ever.

If feelings for you are always superficial and vain,
It's so not me, I'm deep and intense
If you don't  have a heart to maintain,
Just let me here in my cold mountain.

In the first times, you were so kind and sweet,
You were softly holding me in peace
then you started to treat me like a piece of meat,
not caressing in my times of need.

If all you wanted was physical,
Sorry, I want much more, something mystical
If all you do is torture me,
So why don`t you kill me now?


Th.
4:13 PM 6/27/2011

domingo, 10 de março de 2013

À luz da Taberna - Parte 1: Edgar

O que é esta vida senão uma grandiosa roda a qual empurramos diariamente? Nossa existência não passa de um ínfimo grão de areia neste glorioso mar. Somos parte de um todo, e dele jamais conseguiremos nos afastar totalmente. Somos parte de um jogo.

O jogo, ora divertido, ora melancólico ou cruel, nos agrega. Seja pelo horror ou pela diversão. A experiência vai sendo construída constante e progressivamente, e há momentos de intenso tédio. O desprazer faz parte — Mais do que sequer imaginamos — do jogo da vida, onde muitas vezes ganha-se mais ao aprender o dom do silêncio.

Saber silenciar-se nos momentos certos é mais do que uma alternativa, é sapiência. Num mundo onde as palavras são utilizadas em vão, saber utilizá-las mo momento certo é belíssimo, caro curioso!
O tédio? Esse, meu querido leitor, anda de mãos dadas com a solidão. São amigos de longa data. E devo aqui dizer — ambas são valorosas (porém altamente perigosas) companhias. Quem os busca ou se deixa levar deve manter-se ciente que suas presenças podem ser fatais.

Quanto a mim, eles me servem muitissimamente bem.

— Taberneira! Mais vinho!

Nesta vida, a única coisa que não pode faltar é a ardência da ebriedade! Amor? Ora, não seja tolo, meu doce leitor! Se amor são beijos e carícias intensas, no frenesi do desejo... Então amais! E bebeis! Porque não se pode esperar muito mais da vida do que esta libertinagem louca e passional. E álcool, para suportar o fardo de estar vivo.

— Taberneira, tagarelais e não completas meu vinho! Ande, mulher!

quinta-feira, 7 de março de 2013

De vagar

É como se o peso do mundo caísse sobre ela,
ainda assim, ela arranja forças, dia após dia, para continuar
nesta constante busca por auto-afirmação.

Ela tenta entender o mundo,
e nessa estrada de sonhos, acaba se perdendo.
Perde o raio de alegria no olhar.

Pobrezinha, pobre menina, tenta curar o mundo,
mas ela é quem precisa de cura
no coração e na alma.

Tu precisas divagar, menina... Devagar.
O mundo corre e tu tentas correr junto,
mas acabas caindo, e choras feito menina.

Devagar, e vagueie devagar.
Haverás de recuperar o brilho em teu olhar,
e a esperança em teu coração, minha querida.

Th. B.
07-03-2013

sábado, 2 de março de 2013

Reflexões de uma tarde de Março


Uma sensação que me acompanha, diariamente.
Como amiga, no inverno de minh'alma
(A única verdadeira amizade que tive - exceto meus pais).
Ela me desola e me conforta, ao mesmo tempo.
E me desespera, e nesse desespero, eu me acostumo.
Faço de minha vida este vão.
Abraço o vão como à minha vida.

Não sei bem quem sou.
Sei que sou vazia. Isso eu sei.
Sinto dentro e fora de mim. Há um grandioso vazio.
Ele me completa e me aflige.
E quando olho pro lados, enxergo em preto e branco.
As cores só variam pro cinza...
Mesmo que eu me force a usar um batom vermelho,
fingindo uma vividez que eu não tenho.

Finjo mal. Eu sei.
Meus sorrisos não conseguem contaminar nem sequer um ser...
Tamanha a falta de vontade de sorrir.
E meus abraços não procuram abraçar ninguém.
Eu não quero tolos. Prefiro a doce solidão.
Pelo menos, ela me entende.
E posso reclamar o quanto eu quiser em seus ouvidos...
Sempre prontos para me ouvir.

O que sinto dentro de mim é uma ausência.
Uma ausência de mim mesma.
Ou será que nunca me tive?
É uma extrema falta de algo essencial...
Algo como o ar, ou como o chão.
Será que esta sou eu?
Tão insignificantemente inútil?
Tão absorta? Tão morta?

Eu não consigo ser feliz.


Th. B.
02/03/2013