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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Queda livre

Comparo minha última desilusão à queda num barranco.
Estávamos eu e ele juntos, unidos, com cumplicidade e esperanças.
No alto de uma pedreira.
Com subida bem íngreme,
Várias pedrinhas rolavam e ameaçavam nossa subida,
Mas conseguimos subir juntos.
Bem pro alto da pedreira.
Compartilhando sentimentos, emoções, sensações.
De mãos dadas, lado a lado.
Observando o horizonte juntos.
Planejando tudo o que pretendíamos fazer... Juntos.
Repentinamente, sou empurrada do alto da pedreira... Por ele.
Ele me empurra sem nem cogitar o contrário. Sem nem titubear.
Caio em queda livre.
Sem proteções.
Não consigo me segurar em lugar algum.
Não há uma cama de elástico lá em baixo pra me acolher.
Caio sem nem saber o porquê.
Apenas sinto o impacto da queda no meu corpo dolorido.
Olho para cima, e ele não está lá.
Ele nem se deu ao trabalho de observar minha queda.
Garantir que sobreviveria ao impacto.
Ele não está lá.
E eu não sei o porquê.
Sei que tudo poderia ter sido,
Se ele não tivesse me empurrado.
Eu não estaria quebrada e machucada,
E os sonhos que estávamos compartilhando
Poderiam se tornar reais...
Mesmo que a custa.
Mesmo que com um pouco de sofrimento.
Eu não me importaria,
Afinal a subida já teve um pouco de sofrimento.
As pedrinhas rolavam e a gente desviava,
As vezes nos acertavam,
Mas o outro ajudava.
Colocava um "band-aid".
Mas talvez ele nunca quis.
Talvez ele nunca quis compartilhar-se comigo,
Talvez as palavras eram falsas.
Talvez a subida tenha sido apenas por subir,
Sem muito pensar nem sentir,
Quando eu pensava cada detalhe,
De cada metro andado... Juntos.
Eu incrivelmente sentia também.
E a sensação era boa.
Ele me dizia pra aprender a sentir mais.
Mas quem deveria sentir mais, no fim das contas, é ele.

Thais Barbiere
06/08/2015

sábado, 12 de abril de 2008

Vejais e ouçais a peça!

"No entanto sem prazer eu desperdiço a vida;
E freqüentemente quando, para mim, as horas da noite
escoam sem sono, sem sonho, sem ruído,
No meu coração se agitam pensamentos brilhantes,
Desejos invencíveis, ímpetos insensatos."
Ch. Dovalle

"Oh, se esta carne sólida, sólida demais, pudesse derreter, evaporar e voltar à terra como orvalho! Se o Eterno não tivesse erguido a sua lei contra o suicídio! Deus! Meu Deus! Quão tedioso, inútil, vazio, estéril é o mundo, para mim, com todos os seus hábitos. Que horror!"
Shakespeare, Hamlet


Se esta carne frágil em desânimo se consome e me tenta em ímpetos desgostosos, que posso fazer eu, reles criatura feita de utopias e desilusões, para evitar este tão grandioso constrangimento de desfazer-me em simplórias memórias... E cobiçando melhoras, desfaço-me em palavras, crias de minha tristeza. Que só elas, somente elas, podem auxiliar-me nesta jornada infeliz... Que lástima! Oh vida! Que lástima!

Que hei de fazer se unicamente o sangue que corre pelas veias é o que me segura nesta existência terrena? Que hei de fazer se nada mais me dá a devida animação? Que hei de fazer se esta sina apenas me parece mais uma longa caminhada sem propósito e sem motivo aparente? Sinto agora mais que simples ânsia, mas uma vontade de ter um motivo para seguir. Vejo no fim do túnel uma luz. Por mais que esta esteja longínqua, é brilhante e bela em sua insensatez.

Procuro pela saída. Talvez um dia eu habite um jardim de rosas vermelhas, como sempre quis. Oh mísera utopia de minha mente! Oh cruel realidade que me apavora e me faz escrever estas linhas errantes! Sempre desejei poder viver em meus sonhos, e ter com quem compartilhá-los, ter alguém para sonhar comigo, perdida e inebriada em meu próprio mundo. Ter alguém para partilhar este mundo. O mundo que eu criei para me abrigar enquanto realizo a procura pela felicidade.

Se esta alma que me pertence, sente-se inabitável, que sou eu? Que humana sou para viver deste modo? Autista e aprisionada na gaiola que eu mesma criei, persisto nas idéias retrógradas que possuo. Não pretendo mudar, não desejo este tipo de transformação. Minhas idéias são parte do que considero "eu mesma". E mesmo correndo o risco de parecer narcisista, digo com muita ênfase: Orgulho-me de meus pensamentos! - Não o digo pela aparência nada modesta, mas sim pela raridade. Tenho ciência de que o modo pelo qual eu penso não faz parte do senso comum e de repente, exatamente por isso, eu possuo este orgulho contraditório de mim mesma. Orgulho pois adoro tudo que não é freqüente, há um quê de excitação nisso! E não poderia deixar de ser paradoxal, pelo fato de que em tantos momentos desejo desaparecer da face da Terra. Um misto de ódio de existir, com cansaço da própria existência, cansaço desta vidinha medíocre. Creio que só preciso de algo novo.

Onde o encontrarei? Sei bem, tu sabes, as pessoas me são tão desinteressantes (E nem faço questão de esconder esta minha exaustão com relação à humanidade) ! Sabes pois, que para algo ou alguém encantar-me a tal ponto de eu mergulhar no desejo de descobri-la, não é abundante. Aconteceram pouquíssimas vezes em toda minha vida, e lembro-me detalhadamente de cada uma, exatamente por sua particularidade, por ser tão irracional e impensado. Simplesmente ocorre. Quando reparo em mim mesma, já estou a observá-la, a procurá-la como animal selvagem atrás da cria, a persegui-la com meus olhares penetrantes. Coitado do indivíduo! Melhor fazes em correr, correr pela tua sanidade! Excesso de proximidade comigo não lhe trará bem algum. Digo isso por experiência.

Ainda penso na questão da carne. Tão frágil e tão insossa. Macia e calma em seu desdém. Frígida e amaldiçoada em sua essência. Oh carne branca, cor de neve. Assim é minha carne. Assim ajo. Assim sou.

Insone passo minhas madrugadas. Penso em mil e um devaneios. Atiro-me em mil margens, caio em mil precipícios, e ainda assim, cá estou, a gastar meu tempo e meu tão pouco conhecimento neste espaço. Embebedando-me em mim mesma, ébria de minhas razões, continuo aqui. E procuro por aquele que há de me entregar seu coração e que em troca, o darei o meu. Enquanto isso, continuo sendo... Coração de ninguém.