quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quando tudo estiver esquecido, não se esqueça do rio de relâmpagos que beijei no seu sorriso


Ela por fim costurou-se inteira
e minha carne acostumou-se
à claridade.
cada detalhe seu é minha pele
mapa cozido ao som de fogo louco
cântaro de luz colhido à tempestade.
cabelos, sua raiz em testa doce,
súbito nariz e luz a boca brava
no beijo de perfume ouro lava.
seios que sei de tanto trigo
antes de o ventre abrir-se
cavalgantes ninfas
castanhas plumas cintilando aurora.
e na forma da mão a delicada bunda
pousa o gesto pássaro florindo
coxas que em mim roçam o ilimitado.
ela por fim amou-se
lua enterrada
lambida no mistério a claridade.  

Afonso Henriques Neto