sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

This isn't a Christmas post

Não gosto dessas tradições de Natal. Acho que não tenho tantas lembranças suficientemente agradáveis para lembrar e contar. Sinto que o que mais me chama atenção são as rabanadas. Rabanadas. Tão deliciosas!


Natal para mim não tem significado e é por isso que não farei um post dedicado ao Natal. Na minha singela opinião, não preciso de datas específicas para presentear quem eu amo, nem para comer bacalhau. Não preciso torrar o décimo terceiro só para comprar lembrancinhas para todos que me rodeiam, pois quem eu realmente me importo, recebe quando eu efetivamente me lembro desta pessoa. Não preciso de um dia somente para praticar atos moralmente corretos (pois a bondade é um maniqueísmo extremamente relativo), devo praticá-lo sempre que possível. Não preciso de uma justificativa para minha atitude sã, não preciso tampouco de um motivo para me embebedar sem remorso. 


Enfim... Natal para mim, assim como aniversário, é todo dia.



domingo, 12 de dezembro de 2010

Meu sonho




Eu

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso.
E galopas do vale através.
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?.
Tu escutas. Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? - que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!. 

Álvares de Azevedo

Sem dúvida alguma, uma das poesias mais marcantes e significantes para a minha existência. Sei de cor e salteado, e me orgulho de pode entoar tais palavras... 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Soneto da escultura escandalosa




Esquentado frisão, brutal masmarro
Girava em Santarém na pobre feira;
Eis que divisa ao longe em couva ceira
Seus bons irmãos seráficos de barro:

O bruto, que arremeda um boi de carro
Na carranca feroz, parte à carreira,
Os sagrados bonecos escaqueira,
E arranca de ufania um longo escarro:

N'alma o santo furor lhe arqueja, e berra;
Mas vós enchei-vos de íntimo alvoroço,
Povos, que do burel sofreis a guerra:

Que dos bonzos de barro o vil destroço
É presságio talvez de irem por terra
Membrudos fradalhões de carne e osso!

Manuel Maria Barbosa du Bocage... ou simplesmente Bocage, o Desbocado!

sábado, 4 de dezembro de 2010

O mundo em que nada se resolve

Há alguma coisa na terra de que não se pode duvidar além da morte, a única certeza deste mundo? Duvidar e continuar vivendo – eis um paradoxo, embora não um paradoxo trágico, desde que a dúvida é menos intensa, menos consumptiva do que o desespero. A dúvida abstrata, da qual se participa de maneira parcial, é mais freqüente, enquanto do desespero se participa total e organicamente. Nem mesmo as formas mais orgânicas e sérias da dúvida atingem a intensidade do desespero. Comparado ao desespero, o ceticismo se caracteriza por um certo volume de diletantismo e de superficialidade. Posso duvidar de tudo, posso sorrir com desdém para o mundo, mas isso não me impedirá de comer, de dormir pacificamente ou de me casar. No desespero, cujas profundidades só podemos sondar experimentando-o, tais ações são possíveis apenas com um grande esforço. Assim, um homem genuinamente desesperado não pode esquecer a sua própria tragédia: sua consciência preserva a atualidade dolorosa de seu tormento subjetivo. A dúvida é ansiedade quanto a problemas e coisas e tem suas origens na natureza insolúvel de todas as grandes questões. Se tais questões pudessem ser resolvidas, os céticos reverteriam para estados mais normais. A condição do desesperado, a esse respeito, é totalmente diferente: se todos os problemas se resolvessem, ele não se tornaria menos ansioso, já que sua ansiedade emerge de sua própria existência subjetiva. O desespero é o estado no qual a ansiedade e a inquietude são imanentes à existência. Ninguém, no desespero, sofre com “problemas”, mas com o seu próprio tormento e fogo interior. É uma lástima que nada possa ser resolvido neste mundo. No entanto, nunca houve, nem nunca haverá, alguém que se suicidasse por essa razão. E o mesmo vale para o poder que a ansiedade intelectual exerce sobre a ansiedade total de nosso ser! É por isso que prefiro a vida dramática, consumida por fogos íntimos e torturada pelo destino, à vida intelectual, enleada em abstrações que não engajam a essência de nossa subjetividade. Desprezo no pensamento abstrato a ausência de riscos, de loucura, de paixão. Quão fértil e vivo é o pensamento passional! O lirismo o alimenta como sangue bombeado para um coração! É interessante observar o processo dramático pelo qual os homens, originalmente preocupados com problemas abstratos e impessoais, tão objetivos a ponto de se esquecerem de si mesmos, passam a refletir sobre sua própria subjetividade e sobre questões existenciais, quando experimentam a doença e o sofrimento. Os homens ativos e objetivos não dispõem de suficientes recursos interiores para fazer do seu próprio destino um problema interessante. É necessário descer por todos os círculos de um inferno íntimo para converter o destino de alguém num problema subjetivo e também universal. Se não fores reduzido a cinzas, então serás capaz de filosofar liricamente. Somente quando não te dignas sequer de desprezar este mundo de problemas insolúveis alcançarás uma forma superior de existência pessoal. E isso acontecerá não porque tens qualquer valor especial ou qualquer excelência, mas porque nada te interessa para além de tua própria agonia pessoal.


E. M. Cioran
On the heights of despair – Tradução de Renato Suttana

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Amiga






Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.


Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!


Beija-me as mãos, Amor, devagarinho ...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho ...


Beija-mas bem! ... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei prà minha boca! ...


Florbela Espanca

domingo, 21 de novembro de 2010

Out of breath, I am left hoping someday I'll breathe again

Silence speaks softly... I'd like to whisper gently while my hands hold thy heart. 
Even drowned on thy blood, which tastes sweet... Sweet as a brandy wine. I lay my tongue and drink it all. Thirsty for thee.
Maybe that's only a desire. Or maybe I'm going insane. Hell knows I don't care for what another individuals may say.
I'm only playing a riddle I'll never be sure of it trully means.


Thy face is like an broken glass when these empty eyes cry. Crying a river that flows to my soul.
And alas! My life is a poetic tragedy. A life of a fool, living as it wasn't life at all! The greatest thing is living without thinking of what tomorrow can brings. We could wait patiently until path sew, millimeter after millimeter, our destination to nowhere.
Thy riddle is still inside of me. It burns and I couldn't blow thy candle away.
Could never unveil or solve it through my eyes or my skin.
I doubt my senses. I have none to discover thine.


My lunatic thoughts... Once in a blue moon they appear screaming and words help me vomiting all possible visceral agony of waiting.


Th.

domingo, 14 de novembro de 2010

If thou kiss not me?


Love's Philosophy
by Percy Bysshe Shelley

 
The fountains mingle with the river   
And the rivers with the ocean,   
The winds of heaven mix for ever   
With a sweet emotion;   
Nothing in the world is single, 
All things by a law divine   
In one another's being mingle—   
Why not I with thine?   
   
See the mountains kiss high heaven,   
And the waves clasp one another; 
No sister-flower would be forgiven   
If it disdain'd its brother;   
And the sunlight clasps the earth,   
And the moonbeams kiss the sea—   
What is all this sweet work worth 
If thou kiss not me? 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Confissão silente

Tempo agradável. O friozinho inebria minha mente com inúmeras palavras tal qual o amor incendeia o coração de um mancebo enamorado. Uma vontade súbita de escrever por horas a fio me surge como uma necessidade, não unicamente intelectual, mas fisiológica. Pudera eu reservar um singelo dia de minha limitadíssima existência para embebedar-me de literatura e anoitecer, sonhando (acordada ou não - afinal a insônia é o alimento do pensamento) com poemas de amores: suas graças e dissabores; poemas tristes e melancólicos: o spleen inconfundível da alma! Pudera eu erguer meu onírico castelo medieval e cercar-me de magia! Observo porém minha face inconsolável sob o lago mudo. As lágrimas caem do céu e molham meu corpo, e meus lábios repentinamente sorriem frente a agradabilíssima sensação de sentir!
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Demência

Quando olho para mim não me percebo

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


Álvaro de Campos

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do vale à montanha...

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por Quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Espelho não me prova que envelheço...

Fazem 8 dias que completei 22 primaveras... E ainda assim não me enxergo como tal. A idade mental nem sempre corresponde com a física, mas também sei que não sou mais uma menina. Moçoila talvez?... 
Ao pensar que se passou mais um ano, não sinto exatamente tristeza ou contentamento, mas uma sensação de alívio por ter atingido alguns goals que eu precisava há muito tempo. Agora trato de criar outros tantos, a curto, médio e longo prazo. O mais importante é não deixar de ter objetivos e sonhos. Quanto mais difíceis, mais interessante é a busca. 

Espelho não me prova que envelheço

O espelho não me prova que envelheço
Enquanto andares par com a mocidade;
Mas se de rugas vir teu rosto impresso,
Já sei que a Morte a minha vida invade.

Pois toda essa beleza que te veste
Vem de meu coração, que é teu espelho;
O meu vive em teu peito, e o teu me deste:
Por isso como posso ser mais velho?

Portanto, amor, tenhas de ti cuidado
Que eu, não por mim, antes por ti, terei;
Levar teu coração, tão desvelado
Qual ama guarda o doce infante, eu hei.

E nem penses em volta, morto o meu,
Pois para sempre é que me deste o teu.

William Shakespeare
(1564-1616)

sábado, 6 de novembro de 2010

"Alone, I am drunk on my thoughts; in company, I am sober again." Mason Cooley





Antípoda

Sou gélida como os pólos. Fria até a alma.
Impassível diante do dragão, extremamente calma.
Minha cidade: Cria do Sol e do mar.
Tanto calor e animação! Fazem-me sufocar.

As árvores balançam, finalmente uma brisa refrescante.
Repentinamente, ouço o choro de um infante.
Silêncio me foi roubado. Deram-me o som da aflição!
Vejo no canto dos pássaros a única solução.

Este céu azul, todos o acham tão belo e amável!
Para mim, será futuramente uma recordação afável.
Meu devaneio bicolor sugere o tom cinzento,
E entre o preto e o branco, presenciar o firmamento.

Decido caminhar pelas ruas - inebriada em meus pensamentos.
Tantos seres ao redor: Falsos sorrisos, enganosos sentimentos.
Dissimular e mentir fazem parte do cotidiano.
Prefiro, todavia, trancar-me mais, ano após ano.


Thais Barbiere
4/1/2010


Obs.: Infelizmente não sei quem é o responsável por essa imagem, pois a tenho no meu computador há muito tempo e sempre a admirei, somente sei que o nome dela é "Unveil my pain".

domingo, 17 de outubro de 2010

Desterro

Yseult - Sir frank Dicksee

Eu ia triste, triste, com a tristeza discreta dos fatigados,
com a tristeza torpe dos que partiram tendo despedidas,
tão preso aos lugares
de onde o trem já me afastara estradas arrastadas,
que talvez eu não estivesse todo inteiro presente
no horror dessa viagem.
Mas a minha tristeza pesava mais do que todos os pesos,
e era por causa de mim, da minha fadiga desolada,
que a locomotiva, lá adiante, rídicula e honesta, bracejava,
puxando com esforço vagões quase vazios,
com almas cheias de distância, a penetrar no longe.
A tarde subiu do chão para a paisagem sem casas,
e o comboio seguia,
cada vez mais longe, mais fundo, a terra mais vermelha,
o esforço maior, as montanhas mais duras,
como sabem ser duros os caminhos,
pelos quais a gente vai, só pensando na volta…
Coagulada em preto,
a noite isolou as cousas dentro da tarde,
e o barulho do trem foi um rumor de soçobro
no fundo de um mar sem tona.
Nem mesmo foi a noite: foi a ausência
brusca e absurda do dia.
Tão definitiva e estranha, que eu me alegrei, esperando
o não continuar da vida,
o não-regresso da luz, o não-andar mais do trem…

Guimarães Rosa

Desterro

Sir Frank Dicksee - Yseult










Eu ia triste, triste, com a tristeza discreta dos fatigados,
com a tristeza torpe dos que partiram tendo despedidas,
tão preso aos lugares
de onde o trem já me afastara estradas arrastadas,
que talvez eu não estivesse todo inteiro presente
no horror dessa viagem.
Mas a minha tristeza pesava mais do que todos os pesos,
e era por causa de mim, da minha fadiga desolada,
que a locomotiva, lá adiante, rídicula e honesta, bracejava,
puxando com esforço vagões quase vazios,
com almas cheias de distância, a penetrar no longe.
A tarde subiu do chão para a paisagem sem casas,
e o comboio seguia,
cada vez mais longe, mais fundo, a terra mais vermelha,
o esforço maior, as montanhas mais duras,
como sabem ser duros os caminhos,
pelos quais a gente vai, só pensando na volta…
Coagulada em preto,
a noite isolou as cousas dentro da tarde,
e o barulho do trem foi um rumor de soçobro
no fundo de um mar sem tona.
Nem mesmo foi a noite: foi a ausência
brusca e absurda do dia.
Tão definitiva e estranha, que eu me alegrei, esperando
o não continuar da vida,
o não-regresso da luz, o não-andar mais do trem…

João Guimarães Rosa

Guimarães Rosa

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Germany and WW1

Why has Germany taken so long to pay off its WWI debt?


Germany is finally paying off World War I reparations, with the last 70 million euro (£60m) payment drawing the debt to a close.
Interest on loans taken out to the pay the debt will be settled on Sunday, the 20th anniversary of German reunification.
It is about time, some would say.
More than nine decades after the war, Germany - now a leading European Union state and the largest economy in Europe - has long cast off its post-WWI image of a defeated, beleaguered Weimar Republic.
So why has it taken so long for it to shed its age-old debt?
The European nation was not expecting to lose the war, let alone anticipate being burdened with payments that would reach into the next century.

But, in 1919, the victors of the war wrote Germany's guilt into the Versailles Treaty at the infamous Hall of Mirrors, and collectively decided that it should pay a high price for that guilt.
About 269bn gold marks, to be exact - the equivalent of around 100,000 tonnes of gold.
'Bitter resentment'
The treaty took complex negotiation and was undoubtedly controversial; economist John Maynard Keynes was one of its most vocal critics, arguing that it would not be effective in achieving its goals.

       Price of conflict

  • The Treaty of Versailles stripped Germany of just over 13% of its territory
  • The treaty also reduced Germany's economic productivity by about 13%
  • Germany told to pay substantial reparations for 'civilian damage', along with its allies
  • While the 1919 treaty included a "guilt clause", the definite sum was decided in 1921

    The allies - mainly driven by France - wanted to ensure Germany would not be capable of war for many years.
    But the plan backfired, with modern-day historians claiming that Versailles was a key factor in the lead-up to World War II.
    There was bitter resentment in Germany over the sum, and also over article 231, the so-called "guilt clause", which ruled that Germany was responsible for the conflict.
    "The sum was met with disbelief in Germany," says Felix Schulz, a lecturer in European History at Newcastle University.
    He says Germany tried to push back the payments, and very little was paid back in the 1920s - not only because Germany was struggling financially, but because Germany didn't accept them.
    "It's linked to this idea that it is always seen as unfair… In reality I'm sure they could have [paid earlier] if the Weimar Republic was to live on a shoestring, but it would have led to more radical parties earlier on."

    The economic perception that the allies are bleeding Germany is far more important” (Felix Schulz Newcastle University)

    Faced with hyperinflation and soaring unemployment, people sought refuge in a movement that promoted national pride, and signed up to Hitler's Nazi party - which used the reparations as a propaganda tool.
    "These reparations were as important politically as economically," says Mark Harrison, an economics professor at University of Warwick.
    "It was what it [the reparations] stood for. The Germans hated it," he says.
    "They could have [paid] more than they said they would."

    'Overturning the treaty'
    After Versailles, there emerged some recognition of the financial strain on war-torn Germany, and allied nations attempted to minimise the pain.

    It's unlikely that either of the German states believed they had [debt] obligations” (Professor Mark Harrison University of Warwick)

    The 1924 Dawes Plan and the 1929 Young Plan reduced the debt to 112bn gold marks, and granted Germany loans to meet its payments.
    But then disaster struck, and the Wall Street Crash of 1929 threw nations across the world into disarray.
    The ensuing financial crisis meant that not only Germany, but many nations, could not keep up with their war debts; as a result, US President Herbert Hoover introduced a one-year moratorium.
    A year later, the 1932 Lausanne conference tried to write off almost all of Germany's war debt, but the proposal failed to pass US Congress.
    When Hitler came into power, the system of payments had collapsed and time had run out.
    Lausanne, says Mr Schulz, therefore became irrelevant.
    Although the country had only paid about one eighth of what it owed, Hitler refused to pay any more.

    As Prof Harrison says: "Hitler was committed to not just not paying, but to overturning the whole treaty."
    At this point, Mr Schulz says: "The economic reality is not as important as the economic perception... The economic perception that the allies are bleeding Germany is far more important."

    'Two countries'
    When Germany became two countries - East and West - it threw up new questions about which state inherited the debt.
    "When one state succeeds another, there is always a question of whether it takes on its assets and liabilities," says Prof Harrison.
    "It's unlikely that either of the German states believed they had obligations".
    A new agreement in 1953 - the London Treaty - agreed to suspend many payments until Germany was unified.
    By the time country was reunified, in 1990, the world had changed dramatically since the days of Versailles, and policymakers decided to write off most of the original sum.
    Mr Schulz says it was, essentially, a return to the conditions in the 1932 Lausanne agreement, and a reduced amount of payments was reactivated.
    "There was no real need to go back to the punitive state of the 1920s, so you return to something which is much more modest."

    'Lessons learned'
    With time, historians say there was recognition that Versailles did not achieve what it set out to, and that saddling a country with war debts was not a solution.
    The approach was different by the time WWII ended. Germany was made to financially compensate other nations, but there was more of an emphasis on rebuilding Europe.
    "After WWII they decided to hang the leaders but not to punish the nation," says Prof Harrison.
    "But in WWI it was the other way around."
    As Martin Farr, a senior lecturer in British history at Newcastle University, says: "The lesson was learned eventually."
    Unfortunately, he says, "it required another 20 or so million people to be killed first".

    Fonte aqui.


    domingo, 3 de outubro de 2010

    That thou hast her it is not all my grief





















    That thou hast her, it is not all my grief,
    And yet it may be said I loved her dearly;
    That she hath thee, is of my wailing chief,
    A loss in love that touches me more nearly.

    Loving offenders, thus I will excuse ye:
    Thou dost love her, because thou knowst I love her;
    And for my sake even so doth she abuse me,
    Suffering my friend for my sake to approve her.

    If I lose thee, my loss is my love's gain,
    And losing her, my friend hath found that loss;
    Both find each other, and I lose both twain,

    And both for my sake lay on me this cross:
    But here's the joy; my friend and I are one;
    Sweet flattery! then she loves but me alone.

    Shakespeare


    Obs.: A imagem é The end of the quest, do Sir Frank Dicksee (Adoro as imagens dele, são realmente incríveis. Parece que me transmitem a outra dimensão, ou melhor, a outra era.)

    domingo, 26 de setembro de 2010

    Sink or swim...?

    Lágrimas caem do céu. Será que existem tantos olhos lá em cima para despejar todo este pranto? As gotas tocam o chão e se dispersam, formando pequenos rios e lagos correndo rumo a liberdade... Lagos esses onde posso ver minha face molhada.
    Folheio páginas amareladas de um belíssimo livro de capa dura. As palavras roubam a atenção deste fim de tarde e pairam no ar... Protagonistas etéreas da novela impossível que é minha imaginação. Roubam-me o momento e, em troca, oferecem-me um mundo de sensações que só consigo vivenciar através delas.

    sábado, 25 de setembro de 2010

    Sleep, sleep, beauty bright...

    E nestes dias sonolentos, o vinho é a companhia... E a panacéia é o esquecimento.


    Danae, arte de Rembrandt.


    CRADLE SONG
    by: William Blake (1757-1827)


    SLEEP, sleep, beauty bright,
    Dreaming in the joys of night;
    Sleep, sleep; in thy sleep
    Little sorrows sit and weep.

    Sweet babe, in thy face
    Soft desires I can trace,
    Secret joys and secret smiles,
    Little pretty infant wiles.

    As thy softest limbs I feel,
    Smiles as of the morning steal
    O'er thy cheek, and o'er thy breast
    Where thy little heart doth rest.

    O the cunning wiles that creep
    In thy little heart asleep!
    When thy little heart doth wake,
    Then the dreadful night shall break.

    domingo, 19 de setembro de 2010

    Direito de ser Ateu e Autoritarismo Religioso



    Finalmente uma opinião excêntrica com relação ao senso comum, e ainda assim, coerente. Sem atacar, utilizando-se de argumentos. Uma pérola.

    domingo, 12 de setembro de 2010

    A Decade of Reinventing The Cello




    Sem dúvida alguma, esses meninos são fenomenais com o violoncelo. Fico boquiaberta quando páro e assisto algum vídeo deles, ou o dvd que possuo. O concerto deles é sem igual! Realmente vale a pena assistir!
    O que pode-se notar com facilidade é a pegada mais pesada deles, porque (claro!) são finlandeses e consequentemente, são amantes do bom e velho rock (ou metal, no caso do solo finlandês)!
    A banda foi formada em 1993, e desde então, produziram 6 álbuns (milimetricamente construídos com bom gosto). Algumas músicas com vocal - feminino ou masculino - e a grande parte, somente instrumental.

    terça-feira, 7 de setembro de 2010

    Escrevo para me aliviar (trecho)

    "Só tenho vontade de escrever num estado explosivo, na excitação ou na crispação, num estupor transformado em frenesi, num clima de ajuste de contas em que as invectivas substituem as bofetadas e os golpes.(...) Escrevo para não passar ao ato, para evitar uma crise. A expressão é alívio, desforra indireta daquele que não consegue digerir uma vergonha e que se revolta em palavras contra os seus semelhantes e contra si mesmo. A indignação é menos um gesto moral que literário, é mesmo a mola da inspiração. E a sabedoria? É justamente o oposto. O sábio em nós arruina todos os nossos élans, é o sabotador que nos enfraquece e nos paralisa, que espreita em nós o louco para dominá-lo e comprometê-lo, para desonrá-lo. A inspiração? Um desequilíbrio súbito, volúpia inominável de se afirmar ou de se destruir. Não escrevi uma única linha na minha temperatura normal.(...) Escrever é uma provocação, uma visão infelizmente falsa da realidade, que nos coloca acima do que existe e do que nos parece existir. Competir com Deus, ultrapassá-lo mesmo apenas pela força da linguagem, esta é a proeza do escritor, espécime ambíguo, dilacerado e enfatuado que, livre da sua condição natural, se entregou a uma vertigem magnífica, sempre desconcertante, algumas vezes odiosa. Nada mais miserável do que a palavra, e no entanto, é através dela que atingimos sensações de felicidade, uma dilatação última em que estamos completamente sós, sem o menor sentimento de opressão. O supremo alcançado pelo vocábulo, pelo próprio símbolo da fragilidade! Pode-se alcançá-lo também, curiosamente, através da ironia, com a condição de que esta, levando ao extremo sua obra de demolição, cause arrepios de um deus às avessas. As palavras como agente de um êxtase invertido... Tudo o que é realmente intenso participa do paraíso e do inferno, com a diferença de que o primeiro só podemos entrevê-lo, enquanto o segundo temos a sorte de percebê-lo e, mais ainda, de senti-lo. Existe uma vantagem ainda mais notável de que o escritor tem o monopólio: a de se livrar de seus perigos. Sem a faculdade de encher as páginas, me pergunto o que eu viria a ser. Escrever é desfazer-se de seus remorsos e rancores, vomitar seus segredos. O escritor é um desequilibrado que utiliza essas ficções que são as palavras para se curar. Quantas angústias, quantas crises sinistras venci graças a esses remédios insubstanciais!"


    Emil Cioran

    terça-feira, 31 de agosto de 2010

    domingo, 22 de agosto de 2010

    O Auto-Retrato



    Gustave Courbet, auto-retrato.


    No retrato que me faço
    - traço a traço -
    às vezes me pinto nuvem,
    às vezes me pinto árvore...

    às vezes me pinto coisas
    de que nem há mais lembrança...
    ou coisas que não existem
    mas que um dia existirão...

    e, desta lida, em que busco
    - pouco a pouco -
    minha eterna semelhança,

    no final, que restará?
    Um desenho de criança...
    Terminado por um louco!

    Mario Quintana

    segunda-feira, 16 de agosto de 2010

    Vou-me embora pra Pasárgada...




    Vou-me embora pra Pasárgada
    Lá sou amigo do rei
    Lá tenho a mulher que eu quero
    Na cama que escolherei
    Vou-me embora pra Pasárgada

    Vou-me embora pra Pasárgada
    Aqui eu não sou feliz
    Lá a existência é uma aventura
    De tal modo inconseqüente
    Que Joana a Louca de Espanha
    Rainha e falsa demente
    Vem a ser contraparente
    Da nora que eu nunca tive

    E como farei ginástica
    Andarei de bicicleta
    Montarei em burro brabo
    Subirei no pau-de-sebo
    Tomarei banhos de mar!
    E quando estiver cansado
    Deito na beira do rio
    Mando chamar a mãe-d'água
    Pra me contar as histórias
    Que no tempo de eu menino
    Rosa vinha me contar
    Vou-me embora pra Pasárgada

    Em Pasárgada tem tudo
    É outra civilização
    Tem um processo seguro
    De impedir a concepção
    Tem telefone automático
    Tem alcalóide à vontade
    Tem prostitutas bonitas
    Para a gente namorar

    E quando eu estiver mais triste
    Mas triste de não ter jeito
    Quando de noite me der
    Vontade de me matar
    — Lá sou amigo do rei —
    Terei a mulher que eu quero
    Na cama que escolherei
    Vou-me embora pra Pasárgada


    Genial poesia de Manuel Bandeira

    quarta-feira, 11 de agosto de 2010

    Sem música a vida seria um erro...

    Posto hoje uma referência musical. O nome dela é Kristin Asbjørnsen, uma cantora e campositora norueguesa de jazz que possui uma voz definitivamente singular. Marcante, melancólica. Essa moça tem despertado a atenção daqueles que gostam de jazz e também, de críticos de música. O que me despertou bastante interesse é o seu interesse em interpretar poesias em suas músicas, e a que posto abaixo é do poema "Wind the clock" de Bukowski.

    It's just a slow day
    Moving into a slow night
    It doesn't matter
    It doesn't matter what you do

    Everything just stays the same
    The cats sleep it off, the dogs don't bark
    Everything just stays the same
    There's nothing even dying




    "Slow day" faz parte da trilha sonora de um filme (que ainda não assisti), do cineasta norueguês Bent Hamer, que conta um pouquinho da história desse anti-herói. O filme foi entitulado "Factotum", assim como o livro homônimo do mesmo.

    "All theories
    like clichés
    shot to hell,
    all these small faces
    looking up
    beautiful and believing;
    I wish to weep
    but sorrow is
    stupid.
    I wish to believe
    but belief is a
    graveyard.
    We have narrowed it down to
    the butcherknife and the
    mockingbird.
    wish us
    luck."




    Esta acima é a versão de "I wish to weep" que é sensacional, pois acrescenta violinos vitorianos à poesia inconfundível do poeta citado.



    A citação de Nietzsche que entitulou meu post explica mesmo tudo.

    segunda-feira, 9 de agosto de 2010

    Inconstância dos bens do mundo



    Fotografei em minha viagem à Natal (RN) em meados de julho do ano passado. Lugar belíssimo!


    Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
    Depois da Luz se segue a noite escura,
    Em tristes sombras morre a formosura,
    Em contínuas tristezas a alegria.
    Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
    e é tão formosa a Luz, por que não dura?
    Como a beleza assim se transfigura?
    Como o gosto da pena assim se fia?
    Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
    Na formosura não se dê constância,
    E na alegria sinta-se tristeza.
    Começa o mundo enfim pela ignorância,
    E tem qualquer dos bens por natureza
    A firmeza somente na inconstância.

    Gregório de Matos

    domingo, 8 de agosto de 2010

    Combustão Humana Espontânea (CHE)

    Você sabe o que é “Combustão Humana Espontânea” (CHE)? É quando simplesmente o corpo de uma pessoa se incendeia de dentro pra fora sem nenhuma causa aparente ou influência externa.



    A morte de Jeannie Saffin é apontada por muitos como prova incontestável do fenômeno da combustão espontânea. É na verdade um dos únicos casos em que a vítima pegou fogo sem razões aparentes em frente a testemunhas. Às 4 da tarde de uma quarta feira de setembro em 1982, Jeannie Saffin, que tinha 61 anos, mas a idade mental de uma criança de 6, estava sentada na cozinha de sua casa quando repentinamente foi tomada por chamas. Seu pai de 82 anos, que estava sentado na mesa próxima, disse que viu um clarão pelo canto dos olhos e quando se virou viu a filha coberta por chamas, principalmente na boca e mãos. Segundo o senhor Saffin, Jeannie não emitiu nenhum ruído. Ficou parada enquanto era consumida pelas chamas. De acordo com os paramédicos a cozinha estranhamente não apresentava marcas de chamas ou fumaça. Suas roupas também sofreram poucas queimaduras. Os policiais que investigaram a morte da mulher não puderam encontrar uma causa para sua combustão. A única teoria capaz de explicar o caso até hoje é a de que Jeannie queimou de dentro pra fora sem causa ou razão.

    O primeiro relato conhecido de um caso de CHE é de autoria do anatomista dinamarquês Thomas Bartholin que, em 1663, descreveu como uma mulher, em Paris, “foi reduzida a cinzas e fumaça” sem que o colchão de palha em que dormia, fosse danificado pelo fogo.

    Pouco depois, o francês Jonas Dupont relatou uma série de casos semelhantes, na obra “De Incendiis Corporis Humani Spontaneis” (1673).

    No segundo quartel do século XIX, M. J. Fontelle reviu alguns casos perante a Academia Francesa de Ciências (1833), tendo observado que as vítimas tendiam a ser mulheres idosas que consumiam bebidas alcoólicas e que os danos do fogo não se estendiam aos materiais inflamáveis próximos ou mesmo no corpo delas.

    Incêndios estarrecedores que intrigam bombeiros, investigadores, e peritos, corpos incinerados a mais de 1300° Celsius e reduzidos a uma pilha de cinzas sem sinal de material ígneo.

    Esses são os fatos da pirocinesia, ou combustão espontânea, um dos fenômenos mais desconcertantes de natureza paranormal. Com violência e uma velocidade espantosa, chamas intensas e inexplicáveis podem consumir em minutos, residências e corpos humanos.

    De acordo com o Dicionário do Cético, “os céticos não acreditam que haja casos de CHE bem documentados, embora haja algumas centenas de histórias acerca de pessoas e cadáveres que entraram em combustão espontânea”.


    Uma perna do joelho para baixo, foi o que sobrou do dr. J. Irving Bentley de Coudersport, Pensilvânia, em dezembro de 1966.

    Retirado do Realidade Distorcida.

    sábado, 7 de agosto de 2010

    Exausto

    Eu quero uma licença de dormir,
    perdão pra descansar horas a fio,
    sem ao menos sonhar
    a leve palha de um pequeno sonho.
    Quero o que antes da vida
    foi o profundo sono das espécies,
    a graça de um estado.
    Semente.
    Muito mais que raízes.

    Adélia Prado

    Oh, história!

    Irei postar aqui a versão virtual de um livro que eu particularmente acho incrível. Ele reúne 100 histórias muitíssimo interessantes da mitologia. Foi redigido por dois autores gaúchos, Carmen Alenice Seganfredo e A.S. Franchini, que trabalham juntos desde 1999, ao repassarem uma série de contos mitológicos (a maior já lançada aqui no Brasil). Fiz o upload no badongo, que é de bem fácil utilização e além disso, é rápido.

    Para baixar, basta clicar no nome do livro, que segue abaixo:
    A. S. Franchini & Carmen Seganfredo - As 100 Melhores Histórias da Mitologia

    O apanhador de desperdícios



    Uso a palavra para compor meus silêncios.
    Não gosto das palavras
    fatigadas de informar.
    Dou mais respeito
    às que vivem de barriga no chão
    tipo água, pedra, sapo.
    Entendo bem o sotaque das águas.
    Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
    Prezo insetos mais que aviões.
    Prezo a velocidade
    das tartarugas mais que a dos mísseis.
    Tenho em mim esse atraso de nascença.
    Eu fui aparelhado
    para gostar de passarinhos.
    Tenho abundância de ser feliz por isso.
    Meu quintal é maior do que o mundo.
    Sou um apanhador de desperdícios:
    Amo os restos,
    como as boas moscas.
    Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
    Porque eu não sou da informática:
    eu sou da invencionática.
    Só uso a palavra para compor meus silêncios.


    Manoel de Barros

    sexta-feira, 6 de agosto de 2010

    Escolho meus amigos não pela pele...

    Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
    Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
    A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
    Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
    Deles não quero resposta, quero meu avesso.
    Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
    Para isso, só sendo louco.
    Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
    Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
    Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
    Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
    Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
    Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
    Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
    mas lutam para que a fantasia não desapareça.
    Não quero amigos adultos nem chatos.
    Quero-os metade infância e outra metade velhice!
    Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
    e velhos, para que nunca tenham pressa.
    Tenho amigos para saber quem eu sou.
    Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
    nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

    Oscar Wilde

    Gosto quando te calas



    "Afghan Girl" - Sharbat Gula fotografada por Steve McCurry.
    Seu rosto ficou famoso na capa da revista norte-americana National Geographic.
    Enquanto ela estava no campo de refugiados Nasir Bagh, no Paquistão, em 1984, ela foi fotografada pelo fotógrafo, que tirou a foto quando a encontrou sem burca - enfatizando aqui o quão raro era fotografar uma mulher sem burca (a lei afegã obrigava as mulheres a usarem).



    Gosto quando te calas porque estás como ausente,
    e me ouves de longe, minha voz não te toca.
    Parece que os olhos tivessem de ti voado
    e parece que um beijo te fechara a boca.

    Como todas as coisas estão cheias da minha alma
    emerge das coisas, cheia da minha alma.
    Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
    e te pareces com a palavra melancolia.

    Gosto de ti quando calas e estás como distante.
    E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
    E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
    Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

    Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
    claro como uma lâmpada, simples como um anel.
    És como a noite, calada e constelada.
    Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

    Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
    Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
    Uma palavra então, um sorriso bastam.
    E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

    Pablo Neruda

    segunda-feira, 26 de abril de 2010

    Imóvel

    Sigo sem rumo - Sem passos certos.
    Sigo incerta, sem sonhos, só solidão.
    Ando, num andar tonto e torto.
    Andarilha - Para longe de mim.

    A estrada que se segue é longa,
    e a bebo - como um elixir.
    Corro do passado aflito, sem vida,
    a um futuro que não sei se existirá.

    Olho para os lados - Nada, ninguém.
    Respiro aliviada, a multidão me assusta.
    Desejo ir onde não haja inércia,
    onde eu possa finalmente algo sentir.

    Sigo sem rumo - Sem passos certos.
    Sigo incerta, insone, sem nome.
    Ando para o abismo, inebriada.
    Andarilha - Para perto do fim.

    Thais B.
    25/04/10

    sexta-feira, 23 de abril de 2010

    Fica comigo esta noite

    Conto: Fica comigo esta noite

    Preciso dizer aqui que este é um dos meus primeiros contos, e portanto, decidi viajar um pouquinho nele. Fiz, então, uma história de desilusão e desencontros emocionais. Não tem como inspiração uma história específica da vida real.


    "Olá, como estás?" é a minha primeira pergunta. Olho para ti e procuro mergulhar no anilado cor-de-safira dos teus olhos. Respondes-me que estás bem e muito feliz, embora eu possa tranquilamente observar que segues em inquieta agonia. Sorrio. Fazes-me então, a mesma pergunta, afastando-se um pouco, como se não desejasses ouvir a resposta. Sabes, meu bem, que não sou de mentir... Porém tampouco irei dar-te o prazer de saber de meu pesar. Digo-te que estou a seguir minha vida, e que meu trabalho está a consumir todo e qualquer tempo que eu possa ter.

    Caminho lentamente rumo à minha casa. Dou passos lentos e perdidos, como se não conhecesse o lugar, e estivesse noutro nunca visitado por mim. Demoro ao menos meia hora a mais. Óbvio que tu me causaste tal lerdeza. Coloco-me a ler um livro de poemas. A melancolia brota ainda mais forte, mas talvez eu seja um pouco culpada... Estou a ler versos que detalham minha dor:

    "ALMA PERDIDA

    Toda esta noite o rouxinol chorou,
    Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
    Alma de rouxinol, alma da gente,
    Tu és, talvez, alguém que se finou!

    Tu és, talvez, um sonho que passou,
    Que se fundiu na Dor, suavemente ...
    Talvez sejas a alma, a alma doente
    Dalguém que quis amar e nunca amou!

    Toda a noite choraste ... e eu chorei
    Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
    Que ninguém é mais triste do que nós!

    Contaste tanta coisa à noite calma,
    Que eu pensei que tu eras a minh’alma
    Que chorasse perdida em tua voz! ..."


    Florbela, em poucas linhas, conseguiu explicitar o nosso amor. Dolorido, triste, finado. Não posso viver contigo, tampouco longe de ti. Sinto em tua fraqueza que teimas em esconder, que também não consegues tal aventura. Tu és a minha alma, e com ela choro lágrimas aflitas.

    Tento dormir, mas a insone Lua me observa. Vou à janela e ponho-me a flertar com sua beleza desigual. Minha vontade era poder pegá-la para mim e defendê-la das estrelas, que invejam sua luz. Gostaria de protegê-lo deste mesmo modo, amor... Mas sou fraca demais perante ti. Tua presença inebria minha mente, e mesmo ausente, sinto-te perto de mim. Sei que estás a imaginar o meu calor, por mais que estejas abrigando outra em teu cômodo.. Em teus lençóis brancos, que sempre gostaste. Dizias-me que eu parecia angelical no meio deles. Que tu gostavas de ter esta memória de mim, toda hora.

    De algum modo, tenho a plena certeza de que não estás sozinho agora. É como, se num lapso de tempo, eu o visse, a divertir-se com uma daquelas tuas amigas do Tribunal. Todas as vezes que fui ver-te, observei os olhares curiosos sobre a minha pessoa. Como se desejassem meu óbito. Era clara a contemplação delas com relação a ti, meu bem. Tão belo que és... Tua barba negra em nada o envelhece, e tuas madeixas longas e presas que o tornam tão exótico. Meu cigano.

    Ainda me pego, às vezes, caminhando rumo ao Tribunal. Quando reparo, já estou perto e rapidamente, dobro noutra rua. A ideia de encontrá-lo é excitante, mas não devo. Não novamente. Não tenho como prever como agiria, por mais que a calma e o autocontrole me sejam características descritivas. Meses se passaram desde que trocamos aquelas poucas palavras, e não sei mais como estás. Coragem me falta para perguntar a um de nossos amigos em comum: Surgiriam comentários e eu prefero então, não saber. Mas a dor é grandiosa demais, meu querido. Presentiei-o com meu coração, e agora sinto como se não o tivesse mais. Sinto-me sem emoções, sem sentimentos... Exceto a dor, por tua causa e indiferença, pelo resto do mundo.

    Onde trabalho, sou vista como alguém sociável, mas não como tu és. És a luz por onde passas. Eu, contudo, vivia desta luz, como a Lua se alimenta do Sol. Tua voz ecoa e todos desejam ouvir ao menos dez segundos de teu canto jurídico. És bem-visto e amado por todos e todas. Não tive, porém, a mesma sorte. Irredutivelmente sincera, não é qualquer um que gosta de ter comigo. Minhas palavras muitas vezes soam como farpas, rasgando onde tocam. Também sofro de males como auto-reclusão, e agora mais do que nunca. Sempre fui gàuche (Já dizia Carlos Drummond), à margem da sociedade, me prostrei perante tua presença. Avidamente, estava a observá-lo e a desejá-lo mais que tudo. Antípoda de ti, apaixonei-me pelo teu pólo.

    Tu viste um não-sei-o-quê em mim. Viste neste animal selvagem, um tanto de acanhamento infantil. Tu já me disseste uma vez que o que mais prezas em mim é a inocência. Admiravas meu jeito ingenuamente apaixonado, e por muitas vezes, bobo. Certo dia, descobriste que quando me beijavas o rosto, eu invariavelmente corava. Passaste então a beijar-me e afagar-me sempre, tamanho o prazer que sentias em ver-me enrubescer! Ah meu amor, eras encantadoramente meu!

    Os dias eram incompletos se não nos víssemos. Havia uma determinada necessidade de aproximação constante, porém nunca nos prendemos de modo a parecermos definitivamente enamorados. Éramos racionais demais. Até eu. A pessoa que deveria construir a relação com moldes emocionais, nunca conseguiu ser emotiva. A racionalidade sempre me consumiu a mente e o corpo, e enxergo o mundo sob a ótica diretamente determinada pela lógica. Ah meu bem, sou como a onda, que vai e vem. Nunca desejei ser como um lago, parado. Pensava que me entendesses...

    segunda-feira, 19 de abril de 2010

    ISI - América Latina

    Vou postar (quando puder) textos mais informativos. Esse aqui será o primeiro de muitos (espero!) com temas de nível acadêmico.
    Preparei uma apresentação do modelo econômico utilizado pelo Brasil e a América Latina em geral, a partir dos anos 30, chamado ISI.

    ISI (Industrialização por substituição de importações)





    "De 1930 à 1960 uma estratégia de crescimento econômico conhecida
    como ISI dominou o planejamento da América Latina."



    Surgiu ao formar-se a indagação: Como superar a escassez de recursos que caracteriza o (sub)desenvolvimento latino-americano? Seus dois principais autores foram Raul Prebisch (CEPAL) e Maria de Conceição Tavares.

    A ISI surgiu então, no período entre-guerras como uma reação não-intencionada à queda das receitas. Por ter tido uma queda considerável nas exportações, havia dificuldade de pagar as importações, e mecanismos de redução das importações não-essenciais (supérfluas) foram adotados como resposta.

    No pós 2ª Guerra Mundial, houve a implementação de medidas de proteção agora com o objetivo de promover a industrialização, e consequente redução do subdesenvolvimento da América Latina. Os principais instrumentos para implementação da ISI foram os seguintes:
    1) Licenças de importação (o importador pede licença ao governo para importar); 2) Tarifas; 3) Câmbio múltiplo/ diferenciado (bens essenciais/supérfluos); 4) Participação do Estado em investimentos estratégicos; 5) Política monetária/fiscal (empréstimos a juros favoráveis, redução dos impostos).

    É necessário aqui, diferenciar a modelo adotado pelos países periféricos (lê-se: ISI) e o protecionismo do Centro. O primeiro veio como forma de superação do subdesenvolvimento e à problemática do capital escasso. Incentivava a instalação de novas indústrias e era um processo sequencial. Isso tudo justificava a intervenção do Estado no Mercado. Já o segundo, foi uma estratégia de superação de crise (2ª Guerra), para solucionar o problema da alocação de capital, que apesar de ser abundante, era ocioso (não se transformava em investimento). Havia incentivo apenas a algumas indústrias, e às já existentes. Era, ao contrário da outra, um processo concomitante.

    Alguns dos efeitos positivos da ISI foram: O estímulo dado à industrialização latino-americana, principalmente ao Brasil, México e Argentina (aumento dos investimentos diretos estrangeiros na região); e modificações nas importações, mas não ao ponto de redução no volume total.

    Citarei aqui argumentos a favor da ISI (de acordo com Prebisch):
    1) Volatilidade dos preços das commodities (Aumento da produtividade leva à redução dos preços e não à elevação do salário. Aumento na demanda depende do nível de produção do Centro).
    2) Termos de troca declinantes (Resultado da concentração das exportações em produção primária, que tem menos valor agregado e cresce menos rápido que por bens industriais; Estrutura do mercado de trabalho no Centro é diferente da na periferia).
    3) Indústria Nascente (Competitividade vem com a experiência - Governo protege até que a indústria aprenda).
    4) Efeito Multiplicador (Produção industrial, por envolver diferentes ramos da economia, tende a ter efeitos na produção nacional maiores do que o montante inicialmente investido).
    5) Natureza dinâmica das vantagens comparativas (Alguns recursos não são naturais - tecnologia - e podem ser criados por iniciativa estatal).

    Porém, poucos países efetivamente substituíram bens de capital. A proteção causou sobrevalorização cambial, que reduziu a exportação. Além do fato que maiores gastos governamentais levam a um desequilíbrio fiscal, causando inflação. Também favoreceu apenas algumas indústrias.

    -

    Depois termino e digo a relação com a Teoria da Dependência. ;)