sábado, 12 de abril de 2008

Vejais e ouçais a peça!

"No entanto sem prazer eu desperdiço a vida;
E freqüentemente quando, para mim, as horas da noite
escoam sem sono, sem sonho, sem ruído,
No meu coração se agitam pensamentos brilhantes,
Desejos invencíveis, ímpetos insensatos."
Ch. Dovalle

"Oh, se esta carne sólida, sólida demais, pudesse derreter, evaporar e voltar à terra como orvalho! Se o Eterno não tivesse erguido a sua lei contra o suicídio! Deus! Meu Deus! Quão tedioso, inútil, vazio, estéril é o mundo, para mim, com todos os seus hábitos. Que horror!"
Shakespeare, Hamlet


Se esta carne frágil em desânimo se consome e me tenta em ímpetos desgostosos, que posso fazer eu, reles criatura feita de utopias e desilusões, para evitar este tão grandioso constrangimento de desfazer-me em simplórias memórias... E cobiçando melhoras, desfaço-me em palavras, crias de minha tristeza. Que só elas, somente elas, podem auxiliar-me nesta jornada infeliz... Que lástima! Oh vida! Que lástima!

Que hei de fazer se unicamente o sangue que corre pelas veias é o que me segura nesta existência terrena? Que hei de fazer se nada mais me dá a devida animação? Que hei de fazer se esta sina apenas me parece mais uma longa caminhada sem propósito e sem motivo aparente? Sinto agora mais que simples ânsia, mas uma vontade de ter um motivo para seguir. Vejo no fim do túnel uma luz. Por mais que esta esteja longínqua, é brilhante e bela em sua insensatez.

Procuro pela saída. Talvez um dia eu habite um jardim de rosas vermelhas, como sempre quis. Oh mísera utopia de minha mente! Oh cruel realidade que me apavora e me faz escrever estas linhas errantes! Sempre desejei poder viver em meus sonhos, e ter com quem compartilhá-los, ter alguém para sonhar comigo, perdida e inebriada em meu próprio mundo. Ter alguém para partilhar este mundo. O mundo que eu criei para me abrigar enquanto realizo a procura pela felicidade.

Se esta alma que me pertence, sente-se inabitável, que sou eu? Que humana sou para viver deste modo? Autista e aprisionada na gaiola que eu mesma criei, persisto nas idéias retrógradas que possuo. Não pretendo mudar, não desejo este tipo de transformação. Minhas idéias são parte do que considero "eu mesma". E mesmo correndo o risco de parecer narcisista, digo com muita ênfase: Orgulho-me de meus pensamentos! - Não o digo pela aparência nada modesta, mas sim pela raridade. Tenho ciência de que o modo pelo qual eu penso não faz parte do senso comum e de repente, exatamente por isso, eu possuo este orgulho contraditório de mim mesma. Orgulho pois adoro tudo que não é freqüente, há um quê de excitação nisso! E não poderia deixar de ser paradoxal, pelo fato de que em tantos momentos desejo desaparecer da face da Terra. Um misto de ódio de existir, com cansaço da própria existência, cansaço desta vidinha medíocre. Creio que só preciso de algo novo.

Onde o encontrarei? Sei bem, tu sabes, as pessoas me são tão desinteressantes (E nem faço questão de esconder esta minha exaustão com relação à humanidade) ! Sabes pois, que para algo ou alguém encantar-me a tal ponto de eu mergulhar no desejo de descobri-la, não é abundante. Aconteceram pouquíssimas vezes em toda minha vida, e lembro-me detalhadamente de cada uma, exatamente por sua particularidade, por ser tão irracional e impensado. Simplesmente ocorre. Quando reparo em mim mesma, já estou a observá-la, a procurá-la como animal selvagem atrás da cria, a persegui-la com meus olhares penetrantes. Coitado do indivíduo! Melhor fazes em correr, correr pela tua sanidade! Excesso de proximidade comigo não lhe trará bem algum. Digo isso por experiência.

Ainda penso na questão da carne. Tão frágil e tão insossa. Macia e calma em seu desdém. Frígida e amaldiçoada em sua essência. Oh carne branca, cor de neve. Assim é minha carne. Assim ajo. Assim sou.

Insone passo minhas madrugadas. Penso em mil e um devaneios. Atiro-me em mil margens, caio em mil precipícios, e ainda assim, cá estou, a gastar meu tempo e meu tão pouco conhecimento neste espaço. Embebedando-me em mim mesma, ébria de minhas razões, continuo aqui. E procuro por aquele que há de me entregar seu coração e que em troca, o darei o meu. Enquanto isso, continuo sendo... Coração de ninguém.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Who then can warm my soul? Who can quell my passion? Out of these dreams - a boat. I will sail home to you.

"As ilusões são para a alma o que a atmosfera é para a terra. Retirai esse brando ar e a planta morre, a cor empalidece. A terra por onde caminhamos é um ardente rescaldo. É marga o que pisamos, e seixos de fogo quimam os nosso pés. Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho. É o despertar que nos mata. Quem nos rouba os sonhos rouba-nos a vida."
(Virginia Woolf - Orlando)

Que posso dizer? Não vejo possibilidade alguma de viver sem meus sonhos. São eles que me guiam por esses caminhos árduos e dolorosos. Por mais que as coisas cismem em dar errado, minhas ambições me fazem continuar e com seus braços fortes, me erguem de qualquer possível abismo.
São eles, estrelas que brilham, mesmo ofuscadas por quaisquer nevoeiros, estão ali no céu. Fortes, raiando com uma luz encantadora. Uma certeza tenho nesta vida: Sem meus sonhos, não posso viver. E nem gostaria.

Under the heavens we journey far,
on roads of life we're the wanderers,
So let love rise, so let love depart,
Let hope have a place in the lover's heart.
Hope has a place in a lover's heart.

Look to love and you may dream,
and if it should leave then give it wings.
But if such a love is meant to be;
Hope is home, and the heart is free.
Hope is home, and the heart is free.


Hope has a place, da Enya.
Tradução: http://letras.terra.com.br/enya/102807/

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sobre o que farei no blog...

"Vais ler uma página da vida; cheia de sangue e de vinho..."
Álvares de Azevedo, Macário


Primeiramente começarei explanando de modo nada didático o motivo pelo qual o link do blog é "Coração de Ninguém". Como muitos sabem, sou eternamente apaixonada por Fernando Pessoa, e também Florbela Espanca e Salvador Dalí. Mas o ponto é, este é o nome de um poema de Pessoa, poeta português a qual fascínio me causa.
Na verdade, eu poderia passar horas aqui exemplificando escritores que me agradam. José Saramago é outro magnífico, com certeza colocarei trechos de seus livros aqui no blog, e viajarei sobre suas teorias.
Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecilia Meirelles, Clarice Lispector, Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Lord Byron...
Devo confessar que não sigo padrões. Cada dia seguirei o que me vier em mente. Faço poemas, textos, resenhas, ensaios... Não me limito a apenas um tipo. E nem a somente um tipo literário, tenho o meu próprio, que digamos assim, seja uma síntese de que que li, tudo que me é inspirador (incluindo nesse aspecto, músicas que ouço, e nem sempre com letras, mas a própria melodia).
Chegarei um dia e falarei sobre uma simplória viagem de ônibus. No dia seguinte, abordarei temas polêmicos e no outro, discutirei um ramo filosófico. Enfim, essa sou eu, uma síntese...
"Eu sou o que perdi."
.De quem imaginam que seja? Pessoa, óbvio. Costumo dizer que essa frase chega mais perto de me detalhar do que qualquer outra. Mas essa é uma viagem a campos verdejantes tão longínquos que realizarei em outro dia, com mais tempo. Aliás, já tenho um texto sobre esta frase, então provavelmente acrescentarei apenas algumas coisas.