quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Minha terra dos sonhos: Gelolândia

Definitivamente esse é um país repleto de belezas naturais, mas eu realmente sou suspeita para falar dele, então colocarei umas fotos para vocês poderem comprovar com seus próprios olhinhos.




Quem quiser assistir um videozinho da minha querida terra, Islândia, clique aqui.




Como li num blog "a Islândia já havia produzido cultura de importância há quase mil anos: as sagas islandesas, ou Íslendingasögur. E seguramente, deste fato, pouquíssimos estão cientes".


Ainda nesse blog, há uma breve história desse país, que postarei a seguir:


O romance, como o conhecemos hoje, uma obra literária de cunho descritivo e psicológico, predominantemente realista, aliado a elementos idealistas e fantásticos, nasceu na Inglaterra do século XVIII, com autores escrevendo para uma burguesia crescentemente alfabetizada e interessada em arte como entretenimento. Mais do que tudo, o romance moderno trata de ideias, opiniões e realizações de gente aparentemente comum, vivendo em meio a gente que podemos considerar seus pares e equivalentes, cuja personalidade e traços psicológicos determinam suas ações e servem como espelho e modelo de comportamento em sociedade.

No entanto, este tipo de caracterização, direta e mundana, existiu por um curto período no mais improvável dos lugares: os planaltos e vales enregelados e dominados pelo constante vento insular da Islândia. Durante os séculos XIII e XIV, autores desconhecidos escreviam sobre seus antepassados dos séculos X e XI, de maneira tão realista na descrição psicológica de seus personagens que fariam inveja a qualquer Dostoyevsky.



Antes, um pouco de história. A ilha começou a ser colonizada por vikings noruegueses a partir do ano 870. Alguns destes marinheiros decidiram permanecer na ilha e tornar-se fazendeiros, depois de trazer suas mulheres, filhos, filhas e o resto do rebanho. Durante mais de cem anos, antes da conversão ao cristianismo no ano 999 ou 1000, os islandeses continuaram grandes navegadores e destemidos guerreiros. Descobriram a Groenlândia e o continente americano propriamente dito, em Labrador e Québec, no Canadá. Quanto a isso, há evidências, tanto escritas quanto arqueológicas, de seus conflitos com os nativos (índios). Os colonos islandeses em solo americano sofreram com a inimizade dos índios, que provaram ser ainda mais bravos e selvagens do que os famigerados vikings. Os fazendeiros islandeses não aguentaram o tranco, não prosperaram e terminaram por abandonar o continente. Os europeus só conseguiram dizimar os índios depois de inventar as armas de fogo e desenvolver germes fatais aos indígenas.


Enquanto isso, na Islândia, os colonos se viravam como podiam. Nunca tornaram-se totalmente independentes da pátria-mãe norueguesa, por motivos óbvios: como poderiam produzir tudo o que necessitavam em uma terra infértil, pedregosa e congelada a maior parte do tempo? Por isso, eram bons pescadores, comerciantes, e piratas, como todo viking que se preza. Acalmaram-se após a conversão ao cristianismo, mas não (apenas) por causa disso: a desordem no continente europeu já ia se acabando ao redor do ano 1000, e os ataques dos escandinavos começaram a ser facilmente rechaçados. O período áureo da pirataria e mercenarismo viking acabava. E entraram para a história e para as sagas.


As sagas islandesas, então, foram escritas de duzentos a trezentos anos depois dos fatos que narram. Geralmente, tratam de feudos (brigas, querelas, disputas) entre famílias de fazendeiros. Os autores anônimos das sagas parecem regozijar com as picuinhas entre os lideres dos clãs, em como as disputas escalavam às vezes em mortes de todos os lados, em banhos de sangue, em incêndios de casas, em batalhas sobre rios congelados. E depois, tudo era resolvido com diálogos e alianças entre as partes, com troca de esposas para os filhos sobreviventes, reféns e pagamentos de pesadas indenizações. Tudo para recomeçar na próxima primavera. É impossível não fazer um paralelo com O Poderoso Chefão nesse sentido, de luta por poder e dominação entre famílias, e inter-famílias. O ponto principal é a honra de um guerreiro que, quando ferida, precisava ser reparada. Um insulto podia, legalmente, ser punido com uma vendetta de sangue.



Descritas desse modo, as sagas podem parecer tratar apenas de violência. Errado. Apesar da violência ser um elemento importante, já que estava presente no cotidiano da ilha, esta não é a única característica das histórias. Como precursoras da literatura moderna, as sagas islandesas tratam de amor e ódio, honra e conflito, crime e punição, liberdade e exílio.


As mulheres islandesas têm um papel primordial nas narrativas, com seu espírito orgulhoso e determinado, muito diferente do ideal cavalheiresco desenvolvido no continente no mesmo período, com suas inocentes donzelas em busca de proteção. Ao contrário, algumas das islandesas das sagas são fortes e geniosas, nem um pouco idealizadas. Por exemplo, na saga conhecida como Brennu-Njáls saga, a fazenda de Gunnar de Hlídarendi está sendo invadida por inúmeros inimigos, que atacam através do telhado da casa. No meio da refrega, o arco de Gunnar se rompe. Sua esposa Hallgerd, no entanto, recusa-se a dar ao marido alguns fios de seus loiros cabelos para reparar a arma. Por quê? Por um tapa no rosto recebido do marido, quando ela usara um escravo para roubar a casa de um vizinho... Desarmado, Gunnar tem de se virar como pode. Acaba cercado e morto por dezenas de golpes, não sem antes levar uns dois ou três consigo para o Valhala.

A história da vingativa esposa de Gunnar, portanto, mostra que um senso de humor, ainda que muitas vezes bem negro, também permeia as sagas dos islandeses.



Que mais dizer? Cenas de uma beleza bucólica e pastoril, entre uma briga e outra: cuidados com os campos, com os rebanhos, com os cavalos, com as redes, com os barcos. Cenas em alto-mar, quando o fazendeiro ou um de seus filhos decide sair pirateando por aí, voltando recoberto de ouro e glória. Cenas em assembleias e banquetes, em que grandes decisões são tomadas. Também, uma coisa inesperada antes do século XVIII: descrições psicológicas de personagens, de estados de espírito, de incertezas e arrependimentos. Os islandeses das sagas são praticamente reais, na mesma proporção dos personagens de Jane Austen, Henry Fielding e de todos os que vieram depois.

Do banal ao glorioso, do prosaico ao sublime, do lúgubre ao cômico, as sagas, como toda grande literatura, contêm de tudo um pouco.





Achado no:

O sonho de uma sombra

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011