terça-feira, 25 de setembro de 2012

O gelo que se finda

Profundíssimamente morta, desamparada
Sem rumo, no berço do nada...
Estava eu, minh'alma e a sorte
Inócua, gélida, absorte.

Meu coração mais se assemelhava a um deserto,
Com um futuro negro e certo.
Meus olhos fitavam o horizonte sem nada sentir,
E o corpo adequara-se a mentir.

Mentia para si próprio ao fingir que estava bem,
Mentia para os outros ao mostrar ser alguém.
Sentia-me perdida e sem afeto,
Internalizar a tristeza parecia o correto.

Nem mesmo as flores ou os mares,
Conseguiam distrair-me de meus males.
Eu postergava o medo como quem o cuida com carinho,
E acariciava seu rosto, de mansinho.

A natureza, paraíso dos poetas,
Nem ela me oferecia quaisquer metas.
Ainda me sentia frígida e descontente,
Vivia somente seguindo o presente.

Até que um estalo se dá em minha fronte,
Consigo finalmente sair do velho monte.
E palavras igualmente doloridas escuto ecoar,
No distante continente, a brilhar.

Enxergo, lá no alto, a estrela da sorte,
Que ela, e somente ela, me puxa da morte.
Seus braços fortes envolvem-me por inteira,
E, no abismo, retiram-me da beira.

E das palavras... Quem sabe, poucas?
Ou muitas? Mas ricas.
Embebedo-me sem mais pensar.
Deste néctar, hei de me deliciar.

E em teu doce coração, apoio o meu.
Sem mais temer o que perdeu,
Meu peito arde em prazer e alegria,
e sorri, em tua companhia.

Ó, e as estradas tortuosas da vida
foram nada menos, ou mais ainda, que a viga,
que estruturou-me e calejou-me, prontamente,
contra as dores e melancolias da mente.

Essas estradas, e os sentimentos em vão...
Eu os agradeço, com emoção!
Pois eles que levaram-me a ti, meu amor!
E nada, nada mais me parece sem cor.

Beije-me agora e nada mais.
Penetre em minha vida com tuas raízes fatais.
És minha ânsia, meu príncipe, meu sonho fugaz,
Alimenta-me de tuas palavras essenciais.

Beije-me agora... Como nunca beijou outro alguém!
Quero ser tua, em alma e corpo, e de mais ninguém!
Enfeitiça-lo-ei com meu perfume e olhar,
E a harpa de teu coração irei tocar.

Th.
25-09-2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Da Minha Ausência


Banda: Dwelling

Amo-te, sem beijos, a horas marcadas. Trago-te à vida, pelo corpo que te empresto.
E pergunto-me o que buscas, nesta tua ânsia de desejo.
Procuro-me nesta ausência a que me forço na tua presença.
E, também eu inebriada nesta minha ânsia de amar, finjo-te tudo o que quero ter, 
ainda que depois te perca em completo anonimato.
Chamo a mim a tua falsa paixão, neste endorcismo distorcido.
Ainda que, findo o extâse que te empresto, queira lavar-te de mim.

Adeus, outono!

Estranho.
Sinto uma angústia. Um misto de desespero com paz. Inquietação com tranquilidade. Que me ocorre?
Estranho conseguir seguir em frente...
Simplesmente me parece que o mundo agora gira com mais força e vigor. Talvez, com mais vontade.
É isso, vontade.
Estranho.
É como se o coração estivesse, sôfrego, gritando palavras de alegria e alívio. Sem me consultar.
Ao mesmo tempo, sinto que a mente concorda. Deixou de lado a lógica por um tempo.
Tão estranho.
Novamente acordar e sorrir.
Novamente dormir sorrindo.
Estranho.
Acho que desacostumei com a felicidade.
(...)
Sinto que o coração palpita a cada palavra, cada sussurro, cada contato.
Estranho demais.
Um sorriso brotando simplesmente pela presença... Longínqua.
Aquele frio que me circulava não mais me congela.
E a tristeza do mundo não mais me exaspera.
Estranho.
O corpo deseja, impetuosamente.
A mente deseja, senão com ainda mais ímpeto.
O coração se cala... E ao mesmo tempo, grita.
Respira, coração.
Estranho.
Antes era tão fácil controlá-lo.
(...)
E ainda assim agradeço aos céus por essa dádiva.
Achei que nunca mais fosse sorrir por alguém.
De alguém.
Com alguém.
Tão estranho.
Não consegui me acostumar ainda com essa sensação de quietude n'alma.
Uma quietude sentimental.
Transbordando sensações, como vulcão em erupção.
Achei que estivesse extinto.
(...)
É, me é estranho.
Olhar para o horizonte e cobiçá-lo.
Sem aquela nostalgia maldita e aquela dor incômoda.
Tão diferente não se decepcionar.
É quase como esperar a luz, quando se é de madrugada.
Sabe-se que o dia a trará.
E tudo isso é estranho.
Não ter mais controle de si, quando se achava totalmente certa.
Totalmente deserta.
Totalmente vazia.
Sem dúvida alguma, é estranho.
É abrupto, é recente, é invasor.
Mas é o marco de uma nova era.
Onde o mar é límpido, mesmo com sua impureza.
A rosa desabrochando quando suas pétalas só caíam.
É primavera.
Adeus, outono!

Th. - midnight
23-09-2012