Profundíssimamente morta, desamparada
Sem rumo, no berço do nada...
Estava eu, minh'alma e a sorte
Inócua, gélida, absorte.
Meu coração mais se assemelhava a um deserto,
Com um futuro negro e certo.
Meus olhos fitavam o horizonte sem nada sentir,
E o corpo adequara-se a mentir.
Mentia para si próprio ao fingir que estava bem,
Mentia para os outros ao mostrar ser alguém.
Sentia-me perdida e sem afeto,
Internalizar a tristeza parecia o correto.
Nem mesmo as flores ou os mares,
Conseguiam distrair-me de meus males.
Eu postergava o medo como quem o cuida com carinho,
E acariciava seu rosto, de mansinho.
A natureza, paraíso dos poetas,
Nem ela me oferecia quaisquer metas.
Ainda me sentia frígida e descontente,
Vivia somente seguindo o presente.
Até que um estalo se dá em minha fronte,
Consigo finalmente sair do velho monte.
E palavras igualmente doloridas escuto ecoar,
No distante continente, a brilhar.
Enxergo, lá no alto, a estrela da sorte,
Que ela, e somente ela, me puxa da morte.
Seus braços fortes envolvem-me por inteira,
E, no abismo, retiram-me da beira.
E das palavras... Quem sabe, poucas?
Ou muitas? Mas ricas.
Embebedo-me sem mais pensar.
Deste néctar, hei de me deliciar.
E em teu doce coração, apoio o meu.
Sem mais temer o que perdeu,
Meu peito arde em prazer e alegria,
e sorri, em tua companhia.
Ó, e as estradas tortuosas da vida
foram nada menos, ou mais ainda, que a viga,
que estruturou-me e calejou-me, prontamente,
contra as dores e melancolias da mente.
Essas estradas, e os sentimentos em vão...
Eu os agradeço, com emoção!
Pois eles que levaram-me a ti, meu amor!
E nada, nada mais me parece sem cor.
Beije-me agora e nada mais.
Penetre em minha vida com tuas raízes fatais.
És minha ânsia, meu príncipe, meu sonho fugaz,
Alimenta-me de tuas palavras essenciais.
Beije-me agora... Como nunca beijou outro alguém!
Quero ser tua, em alma e corpo, e de mais ninguém!
Enfeitiça-lo-ei com meu perfume e olhar,
E a harpa de teu coração irei tocar.
Th.
25-09-2012