quarta-feira, 9 de abril de 2014

Impassível diante do dragão

Parte 1

Que fazer agora?
Eu, que sempre tão segura de meus atos
E tão insegura de mim mesma.
Tenho dúvidas do que faço,
Embora agora entenda quem sou eu.

Que faço agora?
Que já não sei se vou pro norte,
Ou que o vento do sul me leve bem forte,
Não mais me importo, 
Só quero ir.

Que fazer?
Se não tenho mais sorrisos frágeis,
Mas um semblante sério e pragmático.
Intimamente ciente da realidade.
Tão diferente da serena inocência
De uma época jovial e inconsequente.

Que faço eu?
Se já não quero mais sofrer. 
Chorei tudo que podia, e agora
As lágrimas não mais caem.
Desejo chorar e não consigo. 
Incapaz de sentir novamente. 

Parte 2

Que fazer, alguém me ouve? 
Pergunto incessantemente a um pedaço de papel,
Como se fosse um amigo in persona. 
É ele que me consola,
E o lápis escreve minhas dores,
Expurgando-as de meu ventre.

Tu me ouves? E me vês?
Ponha cá tua mão aflita,
Sinta a palpitação inerte de meu coração.
Tu, tão enérgico, e eu, tão morta. 

Realmente me ouves, anjo meu?
Acho que estás perdido, em alguma esquina,
Em algum conto de fadas inexistente. 
Cá estou eu, observando a realidade de perto,
Porém longe de participar. 

Parte 3

Acho que estou sozinha.
Não existem ruídos. Nada, ninguém.
Estou num breu silencioso,
Profundíssimamente imersa em meus pensamentos,
Não há coisa alguma que pudesse me reavivar a consciência agora.

Estou sozinha porém acompanhada.
Minha mente prega peças irresistíveis,
Bem como me sustenta de modo indiscutível.
Não sei o que dizer,
Mas há sempre algo a se dizer.

Estou sozinha, e as palavras surgem
Como pequenas borboletas num parque verdejante,
E como a areia que queima nossos pés decalços numa bela praia.
O Sol descama minha pele e 
Eu clamo pela Lua. 

Tão majestosa e pálida,
Procuro ser altiva como a estátua de cera 
que se encerra em nosso céu,
Tão pouco estrelado. 
Obscuro como uma tumba antiga. 

Parte 4

Declamo loucuras e inconsistências,
As palavras parecem droga, 
Sempre me causam um vício sem igual.
E fico eu, paralisada diante de tamanho esplendor, 
Infinitude de seus significados.

Sofro quietinha,
Afinal não se sofre em conjunto. 
Cada dor é singular, cada dor é própria,
E não se partilha.
Dor não é moeda de troca.

Dói, e eu somente aceito e
Escrevo. 
Tentando iludir-me, mas bem sei
Que o saber me impede de não sentir.

E o sofrimento espalhado não sai,
Perfura minha carne e meus ossos.
Coleta meus líquidos da vida,
E me deixa, sonolenta e tediosa.

O sofrimento faz calar meus desejos,
Prende minhas alegrias e esperanças numa caixinha preta,
E a joga num poço. 
Lá ela se perde, 
E a agonia se revela desesperadora.

Porém permaneço, 
Pálida e altiva - como a Lua.
Sozinha e silente, movendo-me rápido e lentamente, 
Indescritivelmente absorta,
Impassível diante do dragão.

Thais Barbiere
09-04-2014

O tempo

Faz um bom tempo... 
Faz tanto tempo que quase me perdi. 
Perdi-me em minhas memórias, em minhas desventuras, em minhas insatisfações e loucuras. 
Faz tanto tempo, mas tanto tempo, que já nem sei...
Se sou eu ou se sou ti. 

Thais Barbiere
09-04-2014