quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Ó Tristeza

" (...) Entorpeceu-me o olhar; meu pulso fraquejava;
Não doía a dor, nem o prazer tinha inda flores:
Por que não vos fundistes, a deixar-me o espírito
Deserto do que quer que fosse - exceto o nada?"

John Keats

domingo, 11 de agosto de 2013

A arte do meu Desassossego

O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. (...) Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias.” Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego
“Há qualquer coisa de longínquo em mim neste momento. Estou de fato à varanda da vida, mas não é bem desta vida. (...) Sou todo eu uma vaga saudade, nem do passado, nem do futuro: sou uma saudade do presente, anônima, prolixa e incompreendida.” Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego.

Eis que ergue-se o muro de minhas lamentações! Adoraria poder fugir desta existência.
Fugir pra longe, tão longe. Longe muito além do que pudesse ser visto.
Fugir pra outra realidade, fugir para outra vida.
Fugir de mim mesma e de meus sentimentos.

Não acho que fugir faz parte de minha força,

porém considero positiva a ideia incessante de férias de mim mesma.
A ideia de poder descansar de meus pensamentos,
aquietar minhas dores e meus sorrisos pesarosos.

A ideia de, finalmente, correr livremente num campo verdejante,

sem me preocupar com nada, senão com o próprio nada.
Observar o Sol e a chuva, com a mesma parcialidade,
e alegremente, louvar essas belíssimas férias do dia-a-dia.

Não penso em hotéis luxuosos, tampouco perder-me em vaidades,

penso em isolar-me de quaisquer sentimentos,
bons ou ruins,
e vivenciar dias de inércia absoluta.

Encostar numa árvore e encontrar a paz,

enquanto leio livros e mais livros, e embebedo-me de palavras.
E alimento-me da vida contida,
como um filho se alimenta do leite materno.

E meus olhos calmos porém profundos,

benevolentes porém severos,
presenciarem cenas outras senão as diárias,
e cobiçar novamente os ruídos de minha mente perturbada.

Apaziguar-me comigo mesma, num abraço em meus braços,

e dar-me o ósculo que me recusam.
Deitar em meu leito frio e solitário, reparando que junto dele, os poetas dormem:
O Dante, Lord Byron, Fernando Pessoa e Álvares de Azevedo.

Meus doces amigos, no leito de minha morte diária,

com suas palavras repletas de desassossego e constante inconstância,
acalmam-me os desânimos,
e me trazem de volta a esta longa e complexa caminhada sem fim.

Thais, the Wanderer

11-08-2013