quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Confissão silente

Tempo agradável. O friozinho inebria minha mente com inúmeras palavras tal qual o amor incendeia o coração de um mancebo enamorado. Uma vontade súbita de escrever por horas a fio me surge como uma necessidade, não unicamente intelectual, mas fisiológica. Pudera eu reservar um singelo dia de minha limitadíssima existência para embebedar-me de literatura e anoitecer, sonhando (acordada ou não - afinal a insônia é o alimento do pensamento) com poemas de amores: suas graças e dissabores; poemas tristes e melancólicos: o spleen inconfundível da alma! Pudera eu erguer meu onírico castelo medieval e cercar-me de magia! Observo porém minha face inconsolável sob o lago mudo. As lágrimas caem do céu e molham meu corpo, e meus lábios repentinamente sorriem frente a agradabilíssima sensação de sentir!
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Demência

Quando olho para mim não me percebo

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


Álvaro de Campos

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do vale à montanha...

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por Quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Espelho não me prova que envelheço...

Fazem 8 dias que completei 22 primaveras... E ainda assim não me enxergo como tal. A idade mental nem sempre corresponde com a física, mas também sei que não sou mais uma menina. Moçoila talvez?... 
Ao pensar que se passou mais um ano, não sinto exatamente tristeza ou contentamento, mas uma sensação de alívio por ter atingido alguns goals que eu precisava há muito tempo. Agora trato de criar outros tantos, a curto, médio e longo prazo. O mais importante é não deixar de ter objetivos e sonhos. Quanto mais difíceis, mais interessante é a busca. 

Espelho não me prova que envelheço

O espelho não me prova que envelheço
Enquanto andares par com a mocidade;
Mas se de rugas vir teu rosto impresso,
Já sei que a Morte a minha vida invade.

Pois toda essa beleza que te veste
Vem de meu coração, que é teu espelho;
O meu vive em teu peito, e o teu me deste:
Por isso como posso ser mais velho?

Portanto, amor, tenhas de ti cuidado
Que eu, não por mim, antes por ti, terei;
Levar teu coração, tão desvelado
Qual ama guarda o doce infante, eu hei.

E nem penses em volta, morto o meu,
Pois para sempre é que me deste o teu.

William Shakespeare
(1564-1616)