segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Inércia e Euforia

O vazio no peito escorregadio
por lágrimas que caem ácidas, neste frio
de olhos que analisam com certo flerte
a realidade, sórdida e inerte.

O vazio, insone e angustiante
de não sentir nem mesmo tristeza, instigante,
e muito menos euforia, nesta condição.
Rasga, assim como a realidade, sem emoção.

O vazio, a respiração nunca ofegante,
a respiração monótona e entediante.
As linhas de um caderno, todas iguais, 
retas, paralelas, assim como a realidade... Desleais.

O vazio, envolto em máscaras sorridentes,
sorri, e gargalha... Gargalhadas estridentes
que doem e cortam meus ouvidos moucos,
e machucam e ferem somente a loucos.

O vazio que a chuva me lembra constantemente.
O vácuo que preenche minha mente...
É aquela ausência de algo que não sei, 
é a presença insuficiente a que me dei.

O vazio que ocupa o lugar de meus sentimentos,
que os troca, os engana, cega e me traz tormentos.
É a precariedade de minh'alma pura neste recinto,
contenho-me toda, mas não minto.

O vazio, preto e branco que me atinge
é unânime em meu corpo que não finge
contentamento, outrora admirada,
agora apenas excêntrica, insensata.

O vazio, isento de pesquisas e estudo,
logo a mim aflige! - este ser mudo - 
cansado de tanto se cansar
e nada conseguir, só sonhar.

O vazio, inerente e inconsciente
que me completa, paciente
e traz-me ânsias de não tê-las mais,
e deveras tornar meus olhos, irreais.

O vazio, paraíso dos que são felizes
com pouco e inferno pros infelizes
pelo mundo, e nesta mistura... Que sou eu?
Eternamente descontente... Reles plebeu.

O vazio, que me toma a mão direita com tal força
e me faz escrever até que a própria força
me cale, me desfigurando, privando do que mais amo:
as palavras - as que me socorrem quando por ajuda clamo!

O vazio, espaço ilustre da imaginação,
campo magnético para a ilusão,
confunde-me por inteira neste sufoco
que me intriga o corpo pálido e oco.

Thais Barbiere
29.01.2008

Nenhum comentário: