domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quero


Quero que todos os dias do ano 
todos os dias da vida 
de meia em meia hora 
de 5 em 5 minutos 
me digas: Eu te amo. 
Ouvindo-te dizer: Eu te amo, 
creio, no momento, que sou amado. 
No momento anterior 
e no seguinte, 
como sabê-lo?


Quero que me repitas até a exaustão 
que me amas que me amas que me amas. 
Do contrário evapora-se a amação 
pois ao dizer: Eu te amo, 
dementes 
apagas 
teu amor por mim.


Exijo de ti o perene comunicado. 
Não exijo senão isto, 
isto sempre, isto cada vez mais. 
Quero ser amado por e em tua palavra 
nem sei de outra maneira a não ser esta 
de reconhecer o dom amoroso, 
a perfeita maneira de saber-se amado: 
amor na raiz da palavra 
e na sua emissão, 
amor 
saltando da língua nacional, 
amor 
feito som 
vibração espacial.


No momento em que não me dizes: 
Eu te amo, 
inexoravelmente sei 
que deixaste de ama-me, 
que nunca me amaste antes. 
Se não me disseres urgente repetido 
Eu te amoamoamoamoamo, 
verdade fulminante que acabas de desentranhar, 
eu me precipito no caos, 
essa colecção de objectos de não-amor.


Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário: