terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Suicídio: Sim ou não? - Parte 1

"A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más."
Friedrich Nietzsche

"O suicídio não é querer morrer, é querer desaparecer."
Georges Perros

"A obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e cuja atenção nunca se afasta dessa dupla impossibilidade."
Emil Cioran

"O suicídio é a porta de saída do covarde."
Francisco Amado



Introdução

Começarei aqui um debate sobre este tema que considero tão interessante. O suicídio, antes de tudo, é um fenômeno que ocorre principalmente nas grandes cidades de países desenvolvidos. O Japão e a Rússia são os que lideram o 'ranking' no mundo. Agora, digam-me vocês, o suicídio deve ser visto como algo bom ou ruim?

Teoria Sociológica

Inicialmente, faço uma breve apresentação da teoria do francês Émile Durkheim. Primeiramente, sua definição do que seria o suicídio: "Todo caso de morte provocado direta ou indiretamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado". O cientista social considerava-o um aspecto patológico (Ou seja, uma doença, uma disfunção) característicos das sociedades modernas (Lembrando que esta teoria foi dita em 1897). O que mais me chama atenção no estudo de Durkheim é o fato de que ele não o enxerga como fenômeno individual, mas social; e diz que o suicídio não é causado por loucura, depressão ou desconforto econômico, mas o cume do mal-estar social onde vivem. Pode-se dizer, de acordo com o trabalho de Durkheim, que quantas mais aptidões escolares, poder económico e social tem o indivíduo, maior é a tendência que o mesmo tem para o suicídio (Podemos comprovar com os exemplos de Japão e Rússia).

O autor recorreu à três tipos de suicídio que me sinto obrigada a resumí-los. O suicídio egoísta é "(...) caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um individualismo exagerado.", em suas próprias palavras. O indíviduo já não tem uma forte ligação com a sociedade, e vive então "(...) no meio do tédio e do aborrecimento (...)". É quando o Eu individual está a frente do Eu social e então "(...)o vinculo que liga o homem à vida se distende, é porque o vínculo que o liga à sociedade também se distendeu." Já o suicídio altruísta se caracteriza por uma ligação social fortíssima, e até mesmo, excessiva. O melhor exemplo deste ocorre na sociedade militar, onde o suicídio é utilizado como resposta à elevada pressão hierárquica imposta. O terceiro, o suicídio anômico, é o mais enfatizado. Está estritamente ligado a um grande desenvolvimento, principalmente na área industrial e comercial, então é o que mais ocorre nas sociedades modernas. Aron explica que "Nestas sociedades, a existência social não é regulada pelo costume; os indivíduos estão em competição permanente uns com os outros; esperam muito da existência e exigem muito dela, e encontram-se perpetuamente rondados pelo sofrimento que nasce da desproporção entre as suas aspirações e as suas satisfações."

Filósofos e autores

Uma visão negativa do suicídio seria a de Sartre, que o coloca como um ato de liberdade que destrói todos os atos futuros de liberdade. Ressalta pois, a irracionalidade de tal atitude. Segundo Santo Agostinho, o suicídio é um fracasso da coragem, é o "escapismo" existencial. Os indivíduos não tentam o suicídio por ser a coisa mais razoável para fazer, mas sim, porque é a saída "fácil" do seu problema.
Podemos reparar então, que já no século IV, A Igreja prega seu conceito com relação ao suicídio, com o exemplo já dito de Santo Agostinho. Ele assinalou que o suicídio era uma "pervesão detestável" e "demoníaca", e que o "não matarás" estendia-se também a "não matarás a si próprio". Spinoza nega que seja um ato de virtude pois visa a destruição do que foi a essência mesma do homem, seu poder e sua tendência fundamental. E por fim, Rousseau expõe ser contrário ao suicídio ao afirmar que todo o homem é útil à humanidade pelo simples fato de existir.

Em oposição aos autores citados acima, enfatizarei Emil Cioran. Nascido na Romênia, costuma ser conhecido como filósofo do pessimismo, recaindo em um ceticismo e niilismo radical – possui fortes influências de Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, etc. Uma frase marcante é: "Só vivo porque posso morrer quando quiser. Sem a idéia do suicídio já teria me matado há muito tempo". Ao mesmo tempo que enaltece o fênomeno individual, o autor opta pelo não-suicídio. Essa incoerência é observada até mesmo pelo próprio Cioran, que tenta justificá-la. A que achei mais pertinente é que um pessimista acostuma-se com o absurdo e com o Nada, e abandona, assim, a idéia de se matar. A vida, para Cioran, tornou-se um hábito... E consequentemente, um vício. Porém, não podemos descartar o fato de que o autor, em seus textos, defende a ideia, ao contrário da maioria.

Religiões

O catolicismo, condena e vê o suicídio como um 'pecado' (Seja lá o que isso signifique), um desrespeito às leis de Deus. Sua visão de suicídio é obviamente limitada, apontando-o como moralmente inaceitável. E a pergunta que se faz é: O que é a moral? Por qual motivo ela determina o que é tolerável ou não?

Não muito diferente, o espiritismo também não aceita o suicídio, sob a justificativa que se trata de uma transgressão à Lei Divina. Ao acreditar na vida após a morte, a doutrina afirma que os espíritos suicidas sofrem muito, passando por demasiados tormentos após o desencarne (morte do corpo).

No budismo, o suicídio é visto como algo inútil, pois visto leva o homem a uma nova reencarnação, à volta ao mundo e às dores. A única exceção é quando o homem já atingiu o Nirvana, visto que ele já não mais existe. Nesse caso, julgando estarem fazendo o bem, monges budistas morrem carbonizados em protesto a alguma coisa que aflija os homens. Enquanto o Oriente considera a morte autoinfligida aceitável em questões de honra, no Ocidente o ato é com frequência associado ao egoísmo, obra de alguém fraco que não conseguiu lidar com uma situação. Tanto que o samurai preferia realizar o seppuku, e retirar sua própria vida, do que viver envergonhado (ao perder sua honra).

Já o judaísmo e islamismo, assim como o cristianismo, consideram a vida sagrada, com relevância profundamente teológica. O suicídio é, então, um ato injusto, não digno, sujeito à punição de não merecer os rituais de velório e enterro. Essas punições vieram com a Idade Média, com repreendas ao cadáver como a negativa de sepultamento em solo consagrado, as mutilações e mesmo rituais especiais, derivados de várias superstições, como o vampirismo. Passou-se, já nessa época, a considerar que somente nos casos de "melancolia" ou "loucura agressiva" estaria o suicida isento de ter seu corpo desfalecido tratado com vilipêndio, o que raramente acontecia.

Referentemente ao islamismo, religião fundada pelo profeta Mohammed, o ato é objetode fortíssimo repúdio, mais do que em qualquer outra religião (!), penalizando até mesmo a família do suicida, que se vê desonrada e marginalizada.


Em breve, prosseguirei com o discurso. :*

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