"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
Friedrich Nietzsche
"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura."
Aristóteles
"O gênio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio."
Fernando Pessoa
"A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia."
Michel Foucault
"A loucura é o sonho de uma única pessoa. A razão, é sem dúvida, a loucura de todos."
André Suarés
O que é a loucura? Perguntinha complicada de se responder. Primeiramente vou ao dicionário, e então teremos a definição simples do que é:
loucura sf. 1. Estado, condição ou ato de louco. 2. Insanidade mental.
O que reparo é que os ocidentais enxergam a loucura com grande negativismo. Talvez pelo fato de que os ocidentais apresentam enorme temor por tudo que é desconhecido e fora do padrão. Quando vêem, então, alguém que não se encaixe nos valores morais e nas regras robotizadas, com ações não padronizadas, o chamam de "louco" ou "anormal", porque o normal para eles é seguir tudo que já está naturalizado. Faço aqui uma comparação que vi num site e achei bem pertinente, que dizia que o ser "anormal" passa a ser visto como um câncer, que deve ser retirado imediatamente da convivência social. Daí os hospitais psiquiátricos e etc.
Vejamos agora, a definição de "louco" pelo dicionário:
louco adj. 1. Contrário à razão. 2. Perdido, apaixonado. 3. Temerário. 4. Excessivo, extraordinário. adj e (sm) 5. (Indivíduo) extravagante, esquisito. 6. (Indivíduo) demente, alienado.
Logo, no primeiro momento, explica-se que é alguém que não faz uso da razão como qualquer outro. Um indivíduo que não corresponde à realidade da sociedade. Depois, ao dizê-lo esquisito, explicita o quão diferente ele é da normalidade; para depois, chegar à enfermidade mental (demência), e a talvez consequente alienação.
Diferentemente de muitos textos que já li, vejo a loucura não como fruto de uma exclusão social, mas enxergo a última como consequência direta da primeira. Acho que a pessoa se afasta da sociedade porque esta a obriga, com sua reação de temor ao que lhe é estranho. A loucura é, pois, um fenômeno cultural (além de sociológico). É " (...) uma manifestação de uma dicotomia entre o sujeito que produz e aquele outro que em um modelo capitalista contemporâneo, não gera lucro, sendo assim imbuído de uma loucura asseverada pela mensuração do capital."
Isaias Pessotti (A Loucura e suas Épocas, 1995) apresenta três 3 visões acerca da perda do controle da mente: A místico-religiosa, que atribui a loucura à possessão de espíritos, ou a influência de deuses malignos ou demônios que usam os humanos para suas práticas perversas. E aqui temos o exemplo da Grécia clássica, as peças de Ésquilo (loucura como imposição divina) e Santo Agostinho, no seu livro LXXXIII, adverte que:
"O mal diabólico se insinua por todas as vias sensoriais; faz-se conhecer em formas, recobre-se de cores, manifesta-se em sons, embosca-se em perfumes, infunde-se em sabores".
Temos também, a passional, onde a loucura seria baseada em emoções intensas e descontroladas, ou seja, sentimentos confusos, cujos exemplos podem ser as obras de Eurípedes, Hipólito e Medeia. No conflito entre a razão, que aponta para o bem, e o desejo, que influencia a vontade, a razão pode perder a supremacia.
"Sei que crimes estou na iminência de cometer", disse Medéia, "mas o desejo é mais forte que minhas razões"
E, por fim, a naturalística, que diz que a loucura seria consequência de desequilíbrios do organismo, ligando-a a fatores genéticos. Hipócrates, o pai da Medicina, já sugeria que a loucura seria o desequilíbrio dos humores do corpo (o sangue, a fleuma, a bílis amarela e a bílis negra), onde cada uma se relaciona com um órgão particular do corpo: o coração, o cérebro, o fígado e o baço.
Volto aqui a citar Émile Durkheim para explicar ajudar-me a definir a loucura. Em "Regras do Método Sociológico", de 1973, explicou a loucura como um fenômeno social de segregação. "Aqueles indivíduos que não se adequavam às regras de comportamento social da média da população eram estigmatizados e estereotipados, percebidos como elementos perniciosos à padronização da sociedade. Esses seres que destoavam de todo o conjunto supostamente harmonioso da sociedade burguesa capitalista (a qual não sabe lidar com as diferenças entre si e entre seus semelhantes) deveriam ser enclausurados, colocados à margem de seu convívio social e tratados como marginais."
Já Rute Benedict (Padrões de Cultura, 1983), dá uma visão antropológica acerca da loucura, ao dizer que ela possui status de autoridade e respeito, inserida em um contexto social, sendo esses impulsos mentais uma manifestação de sua própria essência e existência.
"Na Idade Média e Renascença, a loucura estava atrelada a aspectos transcendentais de caráter imaginários, inerentes à magia e bruxaria que rondavam esses períodos históricos. Na Idade Clássica, é o Jus Status, o qual representa o poder para julgar e segregar todos aqueles que eram considerados loucos. Com o advento do manicômio, que em seu escopo teria a função social de zelar pelos moribundos, mas que na verdade não passava de um rincão de torturas, onde a loucura passa a ser tratada como uma doença diferente das demais que assolavam o velho continente. Existia o início de um olhar médico sobre a loucura e não mais uma representação simbólica de crenças religiosas ou uma forma coercitiva jurídica-estatal.
Na civilização ocidental, a loucura passou a ser encarada como problema médico apenas no início do século XIX, quando o francês Philippe Pinel iniciou o tratamento médico humanitário dos doentes mentais, livrando-os das cadeias e dos asilos, onde eram segregados da sociedade."
Freud explica o que seria loucura a partir do estudo dos mecanismos de defesa. Coloco aqui a definição de Rubem Queiroz Cobra: "Os mecanismos de defesa são aprendidos na família ou no meio social externo a que a criança e o adolescente estão expostos. Quando esses mecanismos conseguem controlar as tensões, nenhum sintoma se desenvolve, apesar de que o efeito possa ser limitador das potencialidades do Ego, e empobrecedor da vida instintual. Mas se falham em eliminar as tensões e se o material reprimido retorna à consciência, o Ego é forçado a multiplicar e intensificar seu esforço defensivo e exagerar o seu uso. É nestes casos que a loucura, os sintomas neuróticos, são formados. Para a psicanálise, as psicoses significam um severa falência do sistema defensivo, caracterizada também por uma preponderância de mecanismos primitivos. A diferença entre o estado neurótico e o psicótico seria, portanto, quantitativa, e não qualitativa." Explica então, que a loucura é a impossibilidade do Ego para realizar sua dupla função (conciliação entre Id e Superego, e entre estes e a realidade).
Bem, tenho uma visível e explícita admiração por Arthur Schopenhauer e definitivamente não posso deixar de comentar a sua essencialidade nesta questão. O que Schopenhaur escreveu sobre a loucura antecipou a teoria da "repressão" e a concepção da etiologia das neuroses na teoria da Psicanálise de Freud. A psicologia em Schopenhauer também contem aspectos do que veio a ser a teoria fundamental do método da livre associação de idéias, utilizado por Freud.
Por hoje é isso aí, folks.
:]